
O volume de vendas do comércio varejista do Brasil teve queda de 0,1% em janeiro frente ao mês anterior, mostrou nesta sexta-feira, 14, o IBGE. Foi a terceira retração mensal consecutiva, confirmando a leitura de desaceleração da economia em meio a um cenário de inflação e juros em alta.
Na comparação com janeiro do ano passado, entretanto, as vendas do varejo cresceram 3,1%, a vigésima taxa positiva nessa comparação.
No acumulado em 12 meses, o setor ainda acumulou avanço de 4,7%, se mantendo 0,6% abaixo do seu patamar recorde, que foi atingido em outubro de 2024.
Para Cristiano dos Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio, apesar da terceira taxa negativa consecutiva, a interpretação dos resultados nos últimos meses é de estabilidade. “Temos que lembrar que o máximo da série histórica da margem está em outubro de 2024. Após atingir esse nível recorde em outubro, o comércio seguiu tendo variações muito próximas de zero, ocasionando esse fenômeno de estabilidade na alta”.
O recuo em janeiro foi menor do que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de baixa de 0,20% na comparação mensal e de avanço de 1,90% sobre um ano antes. Em novembro e dezembro, as variações nas vendas foram de -0,2% e -0,3%, respectivamente.
A perda de fôlego do comércio se soma a outros indicadores de desaceleração da economia. O IBGE já tinha mostrado que a indústria ficou estagnada em janeiro. Já o setor de serviços caiu 0,2% em janeiro.
Queda nas vendas de mercados e farmácias
Dois setores de grande peso no indicador tiveram queda nas vendas na passagem de dezembro para janeiro: Hiper e supermercados, produtos alimentícias, bebidas e fumo (-0,4%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, e de perfumaria (-3,4%), este último registrando sua quarta queda consecutiva. Também houve recuo em Tecidos, vestuário e calçados (-0,1%) e Móveis e eletrodomésticos (-0,2%).
As outras quatro tiveram altas: Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (5,3%), Combustíveis e lubrificantes (1,2%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,7%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,6%).
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas cresceu 2,3% em janeiro ante dezembro. As duas atividades adicionais que compõem o indicar tiveram expansão: Veículos, motos, partes e peças (4,8%) e Material de Construção (3%).
Cenário para o ano
Após um ano positivo com forte crescimento em 2024, analistas preveem um cenário mais desafiador agora para os varejistas nacionais, citando principalmente a perspectiva de aperto nas condições de crédito.
Embora um mercado de trabalho aquecido e o aumento da massa salarial ainda devam sustentar o consumo das famílias, juros e inflação elevados tendem a pesar.
O Banco Central elevou a Selic a 13,25% e já apontou novo aumento de 1 ponto percentual na próxima semana. Os efeitos defasados do aperto monetário e a perspectiva de que os juros básicos se mantenham em patamar elevado já começam a se refletir na economia, impactando segmentos mais dependentes de crédito.
O mercado projeta um crescimento do PIB ao redor de 2% em 2025, mas não descartam a possibilidade de uma expansão maior, impulsionada pelas medidas adotadas pelo governo para estimular a economia e o crédito.
“De modo geral, os dados de janeiro do comércio, da indústria e do setor de serviços vieram um pouco mais fracos do que esperávamos, reforçando nossa visão de que a atividade vem perdendo fôlego nos últimos meses. Acreditamos que a economia seguirá em expansão, mas em um ritmo mais moderado. Nossa projeção é de que o PIB cresça 2% em 2025 e 1% em 2026, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
*Com informações da Reuters