Nove procuradores compõem a força-tarefa do Ministério Público que há um ano destrincha o escândalo de corrupção na Petrobras
Da Folha de S.Paulo – Graciliano Rocha
Um carro de luxo dado como presente desencadeou a investigação que já levou à cadeia três ex-diretores da Petrobras e executivos das maiores empreiteiras do país e à abertura de inquéritos contra três dezenas de congressistas da base aliada do governo Dilma Rousseff.
A Land Rover que Alberto Youssef deu ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi descoberta em uma interceptação telefônica, em 2013, no curso de uma investigação sobre doleiros no Paraná.
“Os americanos se vangloriam de terem prendido o Al Capone por causa do Imposto de Renda. Para mim, é de uma incompetência enorme só terem provado a sonegação. Da Land Rover puxamos um fio, com cuidado, que deu nisso tudo”, disse o procurador Carlos Fernando Lima, 50.
“Isso tudo” é a Operação Lava Jato: quase 500 pessoas e empresas sob investigação por crimes que envolvem ao menos R$ 2,1 bilhões e que escancarou suspeitas de corrupção na Petrobras.
Já foram recuperados R$ 500 milhões, principalmente de contas secretas no exterior, e um valor ainda não calculado de bens foi bloqueado: imóveis, hotéis, carros de luxo, helicóptero, aviões e obras de arte.
Com especializações e idades distintas, nove procuradores compõem a força-tarefa do Ministério Público Federal que há um ano destrincha o escândalo. O núcleo duro é formado pelo coordenador Deltan Dallagnol, 34, Orlando Martello Jr., 45, Januário Paludo, 49, e Lima.
São todos oriundos do chamado grupo dos “tuiuiús”, a oposição ao então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, no governo FHC. A ave pantaneira é conhecida pela dificuldade para decolar. Brindeiro, à época, era chamado de engavetador-geral da República.
Os quatro são veteranos do caso Banestado, investigação sobre lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou R$ 30 bilhões nos anos 1990. Do Banestado saiu o DNA do atual modelo de delação premiada (15 até agora).
O cérebro por trás da estratégia é Lima. Bom negociador, ele tem sangue frio para blefar, dizem advogados.
“No começo, lançamos um grande 171: espalhar que já tinha gente na fila para colaborar, deixamos as pessoas saberem que já tinha uma pessoa ou empresa interessada, mas a gente ainda não tinha nada. Aí começaram a bater na nossa porta”, contou.
Advogados criticam a manutenção das prisões, segundo eles um meio de induzir os suspeitos à delação premiada. E dizem que ministros de tribunais superiores rejeitaram habeas corpus devido à pressão da opinião pública.
O bunker do Ministério Público ocupa o 7º e o 8º andar do edifício Patriarca, no centro de Curitiba, em frente à sede da Procuradoria. Os dois pisos foram alugados por causa da imensa massa de documentos da investigação.
Ao todo, cerca de 40 pessoas trabalham por lá. Há um assessor e um estagiário para cada procurador e peritos e seguranças que controlam o acesso ao bunker.
Procuradores trabalham em duplas. Às vésperas da Semana Santa, os dois andares do Patriarca ferviam de atividade. Um dos procuradores dava expediente mesmo em licença-paternidade.
Os procuradores revelam dois grandes temores. “Se houver a soltura de réus agora, muitos deles com dinheiro sujo escondido no exterior, esses processos podem ser atrasados por dez, quinze anos”, disse Dallagnol, expressando um deles.
Outro foco de desconfiança são os acordos de leniência negociados entre empreiteiras e a CGU (Controladoria-Geral da União). O governo afirma querer evitar a paralisação das obras. Mas o temor é que esses acordos sirvam para silenciar delatores.
“A CGU foi feita para controlar corrupção de funcionários públicos, não para ser a salvadora do emprego. Se o governo quer criar um Proer, que faça no lugar certo, que é o Congresso”, afirmou Lima.