Por Geraldo Eugênio*
Tive uma passagem de ano maravilhosa. Aproveitei o litoral alagoano apreciando lindas praias como a Praia do Francês, Barra de São Miguel e Miaí. O azul piscina deste mar tal como descrito por Djavan é cada dia mais admirável com as águas com uma temperatura agradável e uma culinária própria do estado, a exemplo da peixada e do sururu ao molho de coco.
Neste paraíso me veio à mente pela milésima vez o que representa a disseminação do ensino técnico e superior no interior do Brasil, em destaque o Semiárido nordestino. Durante décadas as opções eram remotas, basicamente se limitavam ao belo trabalho prestado pelas faculdades de formação de professores, que ajudou a qualificar e fortalecer o ensino fundamental e médio mas com uma oferta limitada de cursos.
O programa Prouni, criado em 2005 durante o primeiro mandato do governo Lula trouxe uma luz para milhares de jovens em busca de uma oportunidade e para jovens doutores concursados durante a multiplicação de universidades e campi e, em especial pelo número de IFs – Institutos Federais que foram abertos nas mais recônditas e distantes cidades do país. O atual ministro da economia Fernando Haddad pode se orgulhar de ter atendido ao apelo do Presidente e colocado em marcha o mais importante programa social com sólida base econômica na história do país. Nada igual foi pensado e tão bem executado. No início os céticos não eram poucos e achavam que dificilmente estas novas universidades e campi se consolidariam. O tempo foi passando e hoje, quem vive no interior do país sabe que o que foi realizado equivale ao que se presenciou nos Estados Unidos da América, quando a Lei Morril, uma legislação sancionada pelo Presidente Lincoln, em junho de 1862 que estabelecia as bases para as universidades Land Grants , as universidades rurais instaladas na maioria dos estados americanos.
Os eleitos
A multiplicação de campi das universidades e dos institutos federais pelo interior abriu a oportunidade para os jovens que dificilmente conseguiriam cursar uma universidade pública já a maioria estava restrita às capitais e regiões metropolitanas, aos jovens doutores, aos técnicos, resultando em uma mudança extraordinária na vida de milhares de pessoas em todo o país. Este movimento desencadeou uma extraordinária mudança no perfil da mão de obra disponível e da perspectiva de desenvolvimento humano, intelectual e econômico das regiões mais distantes.
A oferta de vagas foi complementada pelo apoio inestimável de bolsas de estudo para os alunos mais humildes, o que sem essas muitos não teriam como deslocar-se de suas cidades ou do campo para cursarem o que pretendiam onde a universidade ou a escola encontrava-se instalada.
Nada está garantido
Uma parte substancial da equação foi resolvida, cabendo aos estudantes fazerem o dever de casa. Este se define pela dedicação em aprender, valorizar o esforço da sociedade para com eles e procurar retribuir com um bom desempenho e, posteriormente, com a qualidade profissional que deles se espera.
Foi ofertada à economia regional uma quantidade significativa de jovens qualificados. Muitos deles ainda com uma ideia clássica do bacharelado que se pretendia à solução através do concurso público mas com a extensão da oferta, abriu-se os olhos para o fato de que terão que, obrigatoriamente exercerem a criatividade, o espírito empreendedor e a vontade de crescer além do salário mensal, por melhor que seja.
Ainda há uma deficiência em programas estruturados que apoiem a criação de empresas para essa juventude, em todas as áreas do conhecimento, que possam aproveitar o talento e a vontade de vencer que a maioria desses jovens conquistou durante a exposição ao novo mundo da universidade ou da escola técnica. Por incrível que pareça, um dos pontos críticos é a relação universidade-empresa. Nem sempre densa como deveria ser, o que em alguns momentos chega a dificultar o acesso da empresa aos alunos e egressos. Recentemente uma empresa que acatou dois estudantes da UFRPE-UAST como estagiários, gentilmente esclareceu a direção da universidade que a legislação que normatiza a atividade que estudantes que tenham como atividade única do ESO, conhecido como estágio supervisionado obrigatório, podem exercer oito horas de estágio e não o que tratava da norma estabelecida pelos cursos.
Aparentemente uma coisa de pouca significância mas nem tanto. Qual a limitação para que o estudante estagiando em uma base de uma empresa em outro município pode melhor aproveitar o tempo do que se dedicar ao estágio? O que representa um estudante utilizar seis horas diárias ao invés de oito quando a primeira opção significa alterar a dinâmica da empresa e dos demais colaboradores? Ainda bem que isto foi entendido mas a um custo de dezenas de anos uma norma absolutamente deslocada da realidade está sendo cumprida.
Sem o conhecimento tudo é mais difícil
A exposição à tecnologia de comunicação e, seguindo o jargão atual, à inteligência artificial alterou de forma profunda a capacidade e a oportunidade de aprendizado. O estudante e o professor passaram a contar com um volume de informações de uma grandeza exponencial, cabendo aos mais esforçados exercerem o discernimento em aproveitar a informação que é útil, correta e honesta. Existem alguns que insistem na esperteza, e não é raro haver denúncias de plágio por profissionais reconhecidos no meio acadêmico. Também é comum que alguns jovens acreditem que solicitar a um aplicativo a criação de uma apresentação, um ensaio ou uma prova seja suficiente para se saírem bem, burlando a vigilância do professor, que antigamente se preocupava com a clássica cola ou fila. Puro engano. Insisto em deixar claro que alguém pode enganar alguns, mas não a si próprio. Além disso, por mais criativo que se possa ser, não é possível burlar a todos, e, em algum momento, a esperteza será exposta.
No fundo, o que pretendo deixar claro é para o fato de que cabe aos jovens aproveitarem o momento ímpar de qualificarem-se com o mesmo nível de informação que conta o aluno similar em qualquer universidade do país ou do exterior e por último um alerta ao fato de que ainda não se conseguiu estabelecer um método de aprendizado que não privilegie o esforço. De modo direto, nada substitui as horas em frente ao livro, tablet ou ao computador. Vocês contam com as mais atualizadas enciclopédias e as informações mais consistentes. Aproveitem.
*Professor Titular da UFRPE-UAST