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Transnordestina: tropeçamos nas nossas pernas?

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Ferrovia Transnordestina / Foto: reprodução

Por Edson Felix Costa

Quando foi anunciado o projeto da ferrovia Transnordestina, uma grande onda de otimismo ocorreu em Pernambuco, particularmente na minha querida Altinho, contemplada com a passagem do projeto e onde moro e tiro o sustento da minha família. Seria a oportunidade de mudar o destino de pobreza de desemprego desta região, já que estamos próximo de Caruaru, cidade polo da economia nordestina.

Mas, como diria o saudoso economista Roberto Campos, a “bigorna da realidade sempre se impõe”. Nossos sonhos começaram a desmoronar quando pedi e recebi, do Ministério Público, um DVD contendo o projeto, para que analisasse e desse uma parecer sobre a desapropriação de áreas por onde passariam a ferrovia.

Do ponto de vista de engenharia, encontrei erros absurdos, como ausência de dispositivos de drenagem, ausência de estudos do solo, ausência de projeto de recuperação da trafegabilidade de diversas estradas municipais, interceptadas pela ferrovia, ausência de levantamento topográfico das propriedades rurais afetadas e que seriam parcialmente desapropriadas, etc.

Mas um projeto de engenharia pode, sempre, ser alterado e corrigido; já um estudo de viabilidade econômica errado costuma trazer enormes prejuízos para um empreendimento e foi esta a realidade que desabou sobre nossos sonhos.

Perguntas essenciais poderiam ter sido feitas e respondidas durante a fase de estudo de viabilidade, como por exemplo:
– Há disponibilidade de carga para os dois ramais, Pernambuco e Ceará?
– A malha ferroviária do Nordeste foi desativada por falta de carga. Isso diz algo para o novo projeto?

Hoje, a bigorna da realidade nos mostra que o ramal que acessa o porto de Pecém, no Ceará, está praticamente pronto e deve entrar em operação muito brevemente. O quadro que temos, para o momento, é o seguinte:

Falava-se que o ramal de Suape serviria para exportar o gesso do Araripe mas parece que essa produção de gesso não tem volume que a credencie a acessar o mercado internacional e, mesmo que tivesse volume, faz alguma diferença para o consumidor internacional que o produto saia de Suape ou de Pecém?

Falava-se que o ramal de Suape seria viabilizado com a exportação do minério de ferro vindo do Piauí. Aí o buraco é muito mais em baixo. Vejamos:

– O Piauí tem duas jazidas de minério de ferro (São Raimundo Nonato e Paulistana). A primeira, com 6 bilhões de toneladas, fica bem próximo da ferrovia Norte-Sul, que acessa a ferrovia da Vale, indo até o porto de Itaqui, no Maranhão por onde escoará a produção, já que a logística do projeto Carajás está pronta e operando.

– A jazida de Paulistana é pequena: são 800 milhões de toneladas. Não tem perfil para acessar o mercado internacional e, muito provavelmente, será absorvida pela Companhia Siderúgica do Pecém, pertencente a um grupo coreano que já está em operação.

– A concessão da ferrovia é da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), uma gigante do setor de aço. Alguém duvida que a CSN terá facilidades em negociar com os coreanos ou, fomentar a implantação e um polo Siderúrgico em Pecém?

– Precisamos perceber, ainda, que a exportação de minério de ferro se dá com emprego de enormes navios, de calado muito profundo que, aqui no Brasil, praticamente, só o porto de Itaqui (MA) tem canal de navegação com essa profundidade.

Por fim, vemos a bancada federal de Pernambuco falando em apresentar um PL para tirar o ramal de Suape do papel mas, como disse o americano James Carville, “isso é economia, estúpido”, a bigorna da realidade sempre se imporá.

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