De modo vago e grosseiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou em entrevista que pode rever a autonomia formal do Banco Central. Pouco se entendeu do que disse, além de um desejo de interferir nos juros. Esse tem sido o padrão das declarações econômicas do mandatário, que revelam, mais do que ideias erradas, a falta de planos.
Além de confusas, as declarações carecem de caráter programático e institucional. A crítica de políticas públicas e a proposta de mudanças são parte do debate democrático e decorrências da alternância de poder. Lula, porém, não apresenta uma agenda organizada.
Seus discursos sugerem que a mudança está associada apenas à vontade ou ao capricho do líder. São imprudentes e contraproducentes —elevam a taxa de juros e provocam mais deterioração das condições financeiras em geral.
Tem sido assim desde o desfecho das eleições, quando o petista passou a criticar a ideia de conter o aumento da dívida pública. O presidente e integrantes do seu governo também pregam a expansão do BNDES (para também se contrapor ao BC, como disse Lula), criticam a Lei das Estatais e a política de preços da Petrobras.
Pretendem ressuscitar, sem mais, programas como o PAC, de escasso ou desastroso resultado, ou o Minha Casa, Minha Vida.
É como se bastasse reviver uma mítica era dourada, interrompida apenas pela deposição de Dilma Rousseff (PT) e pela dita ascensão do neoliberalismo. Tudo se passa como se não tivesse havido erros graves de política econômica, como se certos programas não tivessem envelhecido desde os primeiros governos petistas.
Na vida real, o que se consegue com essa retórica palanqueira é tumulto e incerteza.
A respeito do BC, Lula pretende encerrar a autonomia formal ou nomear dirigentes heterodoxos? Propõe um novo modo de definir metas de inflação ou políticas monetárias diferentes?
Pretende replicar a gestão voluntarista do BNDES sob Dilma Rousseff, que não resultou em aumento de investimento e transtornou as contas públicas? Vale a mesma pergunta para a Petrobras, outro fracasso desastroso.
É obviamente compreensível que um novo governo pretenda dar rumo diferente à administração, talvez com mudanças profundas. Tem mandato obtido nas urnas para tanto. No entanto a saraivada de declarações autolaudatórias, confusas, saudosistas e desprovidas de argumentos só causa insegurança política e econômica.
Além do mais, não demonstra o devido apreço pela seriedade e pelo caráter institucional do governo e de sua agenda, algo que o país tanto precisa recuperar. (Folha de São Paulo)