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Saúde de Lula requer transparência

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Foto: reprodução

Tem faltado o que, por ora, é só promessa: clareza do governo sobre a condição do presidente

Editorial do Estadão

O presidente Lula está “neurologicamente perfeito”, evolui bem após o procedimento complementar feito na quinta-feira e deve ter alta no início da próxima semana, informou a equipe que o atende, chefiada pelo médico Roberto Kalil. Segundo ele, desde a internação, que levou Lula duas vezes à sala de cirurgia devido a um hematoma provocado por hemorragia intracraniana, o presidente tem “exigido transparência total”. Não há razão para duvidar da palavra do médico e de sua equipe, um nome reconhecido por sua capacidade técnica e pelo vasto trânsito que tem com personalidades políticas. Mas, se quiser converter tal exigência em verdade factual e “total”, será preciso bem mais do que palavras e boletins médicos diários. Tem faltado o que, por ora, está no plano da promessa: transparência.

O País assistiu a uma sucessão de desencontros, ausência de porta-vozes e métodos claros na divulgação das informações referentes à saúde do presidente. Inclusive no caso do procedimento complementar. Na primeira entrevista coletiva sobre a cirurgia do presidente, os médicos foram questionados se havia a possibilidade de novos sangramentos e garantiram que não, uma vez que, segundo se disse, o hematoma havia sido drenado.

No dia em que Lula precisou ser levado ao hospital, houve omissão deliberada de informação. Naquela noite, integrantes da Secretaria de Comunicação Social da Presidência e do Hospital Sírio-Libanês negaram que o presidente tivesse sido hospitalizado. A declaração oficial só viria na madrugada, quando Lula já estava em São Paulo. Dois dias depois, assessores pareciam incapazes de prestar esclarecimentos adicionais ao boletim médico que informou sobre o segundo procedimento. Soube-se que esses assessores só tiveram informações após a divulgação do boletim, isto é, juntamente com os jornalistas. A falta de transparência tem sido recorrente em episódios envolvendo a saúde de Lula – quando ele caiu no Palácio da Alvorada, em outubro, a informação tornou-se pública só um dia depois, em reportagens jornalísticas, sem informes oficiais. Ora, a transparência sobre a saúde de Lula não pode se restringir aos boletins e entrevistas coletivas dos seus médicos. É um dever da própria Presidência.

O Brasil é ressabiado com boletins médicos desde os episódios envolvendo a agonia de Tancredo Neves, então presidente eleito, há quase 40 anos. Na época, o primeiro boletim oficial foi otimista, informando que Tancredo passara por uma cirurgia para remover “aderências” intestinais. A farsa prosseguiu, com a informação de que Tancredo tivera uma diverticulite, quando ele jamais apresentou tal quadro. As razões de sua morte geram controvérsias até hoje. Foi um calvário que começou com um diagnóstico errado, aprofundou-se com uma bagunça generalizada na equipe médica que o atendeu no Hospital de Base de Brasília e seguiu com informações desencontradas e pouco transparentes em São Paulo, onde Tancredo morreria dois meses mais tarde.

Hoje são evidentes as debilidades na divulgação das informações sobre a saúde de Lula. Este jornal deseja uma pronta e rápida recuperação do presidente, como prometeu seu médico nesta semana. E o País exige uma transparência total e absoluta sobre um tema que deveria ser tratado como uma questão de Estado.

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