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Sai Bivar, entra Soraya: o que ACM e PT têm a ver com a nova candidatura do União Brasil

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Foto: divulgação

A desistência do deputado federal Luciano Bivar (PE) de se candidatar à Presidência da República e o posterior lançamento da senadora Soraya Thronicke (MS) como pré-candidata em seu lugar são resultado de ruídos internos no União Brasil e uma tentativa de mitigá-los. Informações de que Bivar teria se sentado com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva em busca de uma costura política para torná-lo presidente da Câmara dos Deputados em 2023 em troca da renúncia à sua pré-candidatura causaram descontentamento em ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e pré-candidato do União Brasil ao governo da Bahia.

Aliados mais fiéis afirmam que Bivar, ao deixar a corrida presidencial, fez um cálculo político legítimo e que o lançamento da candidatura de Soraya evita qualquer constrangimento a ACM Neto na Bahia. Outra ala do União Brasil analisa, porém, que a articulação foi mal conduzida e não dissipa os ruídos ao criticar informações vazadas à imprensa de que o partido teria exigido a renúncia da candidatura do petista Jerônimo Rodrigues ao governo baiano como contrapartida à desistência de Bivar.

A possível retirada da candidatura do PT na Bahia em apoio a ACM Neto provocou insatisfação no ex-prefeito de Salvador, que diz não ter sido consultado sobre essa costura e rejeita a hipótese de um acordo nesses moldes. Ele não esconde aos mais próximos o incômodo com a repercussão negativa que a notícia gerou.

O que disse ACM Neto sobre a costura do União Brasil e por que é contra

A desistência da candidatura de Bivar claramente desagradou ACM Neto, dizem aliados mais próximos do ex-prefeito. “Neto ficou muito contrariado. Ele era um dos maiores entusiastas da candidatura de Bivar, que permitiria a ele montar um palanque sem se indispor com seu eleitor ‘anti-Lula'”, afirma uma liderança do partido próxima do ex-prefeito de Salvador.

Na Bahia, ACM Neto tem afastado a hipótese de ceder palanque a um presidenciável e reiteradamente diz à imprensa que terá um palanque aberto. Porém, aliados afirmam que a candidatura de Bivar deixaria o ex-prefeito mais confortável ao longo da disputa na medida em que afastaria o discurso do PT que ainda o associa ao presidente Jair Bolsonaro (PL), por causa do alinhamento de parlamentares do União Brasil com pautas defendidas pelo governo federal.

Sobre esse assunto, aliados próximos de Bivar entendem que a escolha de Soraya Thronicke ajuda a colocar panos quentes no desconforto gerado a ACM Neto, já que ele ganha uma importante liderança do partido para dividir o palanque. “Acabou, assim fica tudo certo”, avalia o deputado federal Delegado Waldir (União Brasil), pré-candidato ao Senado por Goiás.

“Bivar fica distante para poder continuar conduzindo o União e a Soraya vai à disputa sem correr risco por ter mais quatro anos de mandato no Senado e ser um nome que, no futuro, pode ser governadora. Teremos nela uma peça importante e nós colocamos no contraponto ideológico uma mulher para contemporizar. Na guerra, estamos propondo a paz”, afirma Waldir, que defende a senadora como presidenciável.

Ocorre, porém, que a desistência da candidatura de Bivar é apenas um dos motivos da contrariedade de ACM Neto. A renúncia ter sido precedida por informações vazadas à imprensa de que o União Brasil supostamente costurou o apoio do PT à campanha do ex-prefeito de Salvador irritou Neto por ter sido discutida sem seu consentimento, afirmam interlocutores.

O entendimento dele é que o suposto pedido de apoio aos petistas transmite um sinal de fraqueza política no estado. Não à toa o ex-prefeito recebeu provocações de opositores políticos no estado, como o atual governador baiano, Rui Costa (PT), que classificou a sugestão de renúncia da candidatura de Jerônimo Rodrigues como um “desespero” do adversário.

ACM Neto respondeu o governador baiano em nota ao jornal local Metro1. “Quero que o governador diga quem pediu a quem”, declarou. “Esse tipo de especulação é bem própria de quem quer criar factoides para dar holofote a quem não tem”, acrescentou.

O entorno político de Neto entende que a resposta reflete uma clara contrariedade às articulações costuradas por Bivar. O deputado federal Paulo Azi, presidente do diretório baiano do União Brasil, chamou de “peça de ficção” a suposta contrapartida exigida pelo partido ao PT nos bastidores e taxou a informação de “especulação maldosa e sem fundamento”. “Estamos prontos para vencer o candidato daqueles que governam a Bahia há 16 anos nas urnas”, declarou em nota à imprensa.

Para Azi, se o PT pensa em retirar a candidatura é por reconhecer o desejo de mudança. “Bom, se isso estiver sendo cogitado pelo PT, então eles caíram na real e perceberam que o povo da Bahia cansou de ser campeão em homicídios e último em educação, e quer um novo governo”, complementou.

Como fica a relação entre Bivar e ACM Neto após as divergências internas
Esta é a segunda vez que Luciano Bivar e ACM Neto se desentendem. Anteriormente, o ex-prefeito de Salvador e outros caciques oriundos do DEM, partido que se fundiu com o PSL para formar o União Brasil, contestaram a filiação do ex-juiz Sergio Moro com a finalidade de disputar o Palácio do Planalto.

À época, ACM Neto e aliados apontaram ter maioria para impugnar uma eventual candidatura de Moro à Presidência. Segundo interlocutores do candidato ao governo baiano, o estatuto da sigla determina que toda decisão da Executiva Nacional precisa ser referendada por pelo menos 60% do colegiado.

Sobre a articulação entre Bivar e o PT e a suposta costura envolvendo a desistência da candidatura de Jerônimo Rodrigues na Bahia, o entorno político de Neto afirma que a executiva nacional não foi consultada sobre isso, nem sobre a desistência da candidatura ao Planalto do presidente da legenda, e que sequer houve alguma decisão referendada por maioria do colegiado.

As costuras adotadas por Bivar têm elevado os ruídos internos no União Brasil. Um parlamentar egresso do DEM e próximo de Neto afirma que “o clima não é de felicidade dentro do União Brasil com essa história de Lula”. “O DEM tem história de ser um dos partidos mais ferrenhos de combate e oposição ao ‘lulopetismo’. Lula chegou a dizer que iria acabar conosco. A ala do DEM dentro não tolerará qualquer aliança com Lula”, sustenta.

A proximidade entre Bivar e PT causa incômodos não apenas ao diretório baiano. As articulações também desagradam uma ala do diretório paulista do União Brasil que deseja apoiar a reeleição do governador, Rodrigo Garcia (PSDB), uma vez que o partido não descarta um apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT).

A hipótese de um apoio formal do União Brasil à chapa de Lula é descartada no partido dadas as resistências internas, principalmente da “ala do DEM”, mas os mais próximos de Bivar defendem as costuras do presidente da legenda. “Não sei se tem essa animosidade, mas, de fato, esses movimentos do Bivar dão brecha a esses ruídos”, diz uma liderança da “ala do PSL”. “Mesmo esse movimento dele [de costura com o PT] eu ainda acho um pouco arriscado”, complementa.

Egresso da “ala do PSL”, o deputado federal Julian Lemos (União Brasil-PB) minimiza os ruídos internos e afirma que Bivar sempre dialoga com todos do partido, sejam deputados, senadores ou governadores. “Ele nesse ponto é extremamente democrático. Sou leal aos princípios do meu partido e quem fala por ele é Luciano Bivar e o Antônio Rueda [vice-presidente e atual presidente em exercício]. Declarações isoladas são isoladas e não representam a fala do União Brasil”, destaca.

Outro oriundo do PSL, o deputado federal Delegado Waldir também minimiza as divergências internas. “O União Brasil, como todos os partidos, tem ruídos. O PT tem uns cinco alinhamentos, não tem partido no Brasil que não tenha discordância. Nós vivemos em uma democracia e, na democracia, temos opiniões diferentes, mesmo dentro de partidos onde, aparentemente, as pessoas teriam ligações ideológicas ou políticas semelhantes”, diz.

“Mas, mesmo assim, respeitamos o contraditório. Aqui, ninguém quer ser terrorista e calar a boca de ninguém. As diferenças se superam em debates; aqui ninguém levanta a arma para ninguém. A política é debate, e unanimidade ninguém vai ter, nem o União Brasil quer isso, até porque, na política, a unanimidade não existe”, complementa.

O que o futuro reserva para o União Brasil e suas diferentes “alas”
Embates entre as duas “alas” do União Brasil são vistos como natural em ambos os grupos políticos. Para os mais próximos de ACM Neto, sempre vão existir formas diferentes de pensar e agir em um partido político, principalmente em um que surge da fusão entre o DEM, do qual ele era presidente nacional, e o PSL, que era presidido por Bivar.

E embora exista um certo incômodo e percepção sobre como Bivar centraliza o poder, o entorno político de Neto não fala em ruptura ou racha no partido. Os mais próximos de Bivar pensam o mesmo. “Não é perfil nem de um, nem de outro. Os dois contemporizam”, aposta uma liderança do antigo do PSL.

Nas duas alas do partido, há o entendimento de que os ruídos são naturais para uma legenda com menos de um ano de existência e que ainda está em processo de maturação e alinhamento. Alguns, porém, se preocupam com a falta de coesão e unidade demonstrada até o momento.

“Se pega dois partidos grandes e coloca em um, uma tendência é fragmentar, como ocorreu com o MDB. Acho que só o tempo no exercício da política vai nortear se a ala do DEM pode vir a ter uma hegemonia maior que a do PSL ou não. Mas, hoje, o PSL tem o controle da presidência e da tesouraria”, analisa uma liderança do União Brasil no Congresso. A mesma fonte aponta que o estatuto da legenda foi inspirado no do PSD, presidido por Gilberto Kassab, que tem um forte controle nas decisões político-partidárias.

Embora Bivar tenha as rédeas do partido e a chave do “cofre” dos R$ 782 milhões de recursos do fundo eleitoral, lideranças admitem que a capilaridade eleitoral construída pelo DEM ao longo de sua história pode ser um fator preponderante para o futuro do União Brasil. “Óbvio que o ACM se elegendo governador vai se fortalecer. O mesmo vale para o [Ronaldo] Caiado [governador de Goiás que tenta a reeleição] e outros”, diz um segundo parlamentar influente da legenda.

“Mas só o tempo e o resultado das urnas é que vão dizer como as forças políticas estarão estabelecidas no processo, quem vai ter mais afinidade com quem, política não existe espaço vazio. Quem tiver mais forças e condições de articulação talvez possa ter hegemonia e contemporizar. Agora, se tiver duas forças parelhas, a tendência é ter várias forças arbitrando”, complementa.

Os mais próximos de Bivar até defendem que as costuras políticas podem ajudar o partido a ter uma estrutura mais sólida a partir de 2023, incluindo no Congresso e principalmente se o presidente da legenda conseguir apoio para a eleição da presidência da Câmara.

O deputado Delegado Waldir não vislumbra a possibilidade de os ruídos e as divergências no União Brasil desestabilizarem a estruturação e coesão da legenda. “A chance é zero. Bivar mostrou, inclusive, coesão no ato sublime de desistir de ser candidato e termos uma candidata. ACM Neto não precisará dar palanque para A ou B. Teremos uma candidata mulher à Presidência”, comenta. (por Gazeta do Povo)

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