As eleições para o governo da Bahia neste ano colocam frente a frente, mais uma vez, PT e União Brasil (predecessor do Democratas e PFL), com Jerônimo Rodrigues e ACM Neto como protagonistas da disputa. Mas dessa vez, a menos de cinco meses da votação, o pré-candidato do União Brasil apresenta considerável vantagem nas pesquisas eleitorais e pode encerrar um ciclo de 16 anos de governadores petistas na Bahia.
Segundo levantamento divulgado no dia 18 de maio pelo instituto Quaest, contratado pelo Banco Genial, ACM Neto tinha 67% dos votos no primeiro turno contra 6% de Jerônimo Rodrigues (PT) e João Roma (PL).
“Jerônimo Rodrigues ainda é desconhecido. Em alguma medida a eleição estadual ainda não começou. Em todo caso, não será uma disputa fácil para ele. O quadro eleitoral, pelo menos neste momento, é muito melhor para ACM Neto, que tem uma carreira bem consolidada como deputado federal e prefeito de Salvador”, avalia o professor do Departamento de Ciência Política da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Samuel Barros.
Sem João Roma na pesquisa, a intenção de voto de ACM Neto sobe para 70% contra 8% do candidato petista.
“O sucesso da candidatura política de Jerônimo Rodrigues continua a depender da ligação da imagem Lula-Jerônimo, ou seja, dependerá da transferência de capital político, resultado da influência do lulismo no estado. O principal embate do candidato petista frente a ACM Neto se dará em torno da disputa pelo eleitorado de Lula na Bahia”, pontua a cientista política e pesquisadora em Mestrado Acadêmico na UFPR (Universidade Federal do Paraná) Ana Quele Passos.
Hegemonia petista x hegemonia do carlismo
Desde a redemocratização em 1988, o Partido dos Trabalhadores conseguiu ser dominante em alguns estados do Brasil. Dentre essas regiões, a Bahia é um dos casos mais notáveis: o PT venceu as últimas quatro eleições, com Jaques Wagner e Rui Costa sendo reeleitos para ocuparem o Palácio de Ondina.
As vitórias consecutivas do PT deixaram fora de cena o “carlismo”, como ficou popularmente conhecida a influência política do falecido governador da Bahia e senador Antônio Carlos Magalhães no estado. Como comparação, apenas o estado de São Paulo apresenta uma hegemonia partidária maior que a Bahia: os eleitores paulistas elegeram desde 1994 candidatos do PSDB: Mario Covas (duas vezes), Geraldo Alckmin (três vezes), José Serra e João Doria.
Agora, o neto de Antônio Carlos Magalhães surge como principal esperança para recolocar o carlismo no Palácio de Ondina desde 2006. ACM Neto foi prefeito de Salvador em dois mandatos consecutivos entre 2012 e 2020, tendo conseguido inclusive eleger o vice-prefeito Bruno Reis (União Brasil) como sucessor.
Além disso, ACM Neto ganhou destaque nacional ao ser eleito em 2018 como presidente do DEM (partido que se fundiu com o PSL para formar o União Brasil) e ao articular junto da bancada governista na Câmara dos Deputados pela eleição de Arthur Lira (PP-AL), em detrimento do apoio do colega de partido à época, Rodrigo Maia (atualmente no PSDB-RJ), ao candidato de oposição Baleia Rossi (MDB-SP).
“O carlismo e o lulismo influenciam notadamente na formação dos quadros da representação política local, nas últimas décadas. Se consolidaram como principais polos de representações, que ressoam diretamente no recrutamento político no estado, com destaque por estabelecer assertivas coalizões partidárias que contribuíram para a permanência destes à frente do poder”, analisa Ana Quele.
Jerônimo Rodrigues, por sua vez, foi alçado pelo PT nestas eleições, mesmo sem nunca ter concorrido a qualquer cargo público, depois que Jaques Wagner desistiu da candidatura ao governo baiano para manter o mandato de senador, que termina em 2026.
Engenheiro agrônomo de formação, Jerônimo Rodrigues chegou a trabalhar entre 2011 e 2012, no governo de Dilma Rousseff (PT), como secretário executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, secretário nacional do Movimento Territorial, secretário executivo do programa Pró-Territórios e ainda secretário executivo do Condraf (Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável).
“O fato dos mesmos partidos liderarem as chapas pode fazer crer que há estabilidade. Não há. A composição das coligações muda muito. Os dois grupos têm uma preocupação histórica de forjar novos nomes. Paulo Souto ou mesmo Otto (Alencar) são exemplos do passado distante. Rui Costa é um exemplo do presente. Jerônimo é a nova aposta. ACM Neto conseguiu produzir um sucessor até o momento bem avaliado: Bruno Reis”, avalia Barros. (Gazeta do Povo)