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Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado

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Foto: Ricardo Stuckert/PR

Pressionado pela disparada do dólar, que na semana passada alcançou a maior cotação em mais de quatro anos, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete para esta semana um pacote de corte de gastos para aliviar o desequilíbrio fiscal e acalmar o mercado financeiro.

Lula está numa encruzilhada entre atender a demanda pela responsabilidade com as contas públicas e desagradar setores aliados da sua base com medidas de ajuste.

A contenção de despesas é necessária para o cumprimento da meta de zerar o déficit da União em 2025, conforme determinado pelo arcabouço fiscal.

Essa tarefa mexe com um leque amplo de interesses que envolvem desde distribuição de emendas aos parlamentares, repasses aos ministérios e manutenção de benefícios e programas sociais.

Todos os movimentos têm potencial de arranhar a popularidade e comprometer a reeleição do mandatário.

Atraso em pacote piorou humor do mercado

O pacote era esperado para depois das eleições municipais, mas a sinalização de falta de prioridade do ministro Fernando Haddad, na semana passada, mexeu com os ânimos dos investidores.

O presidente sentiu a reação do mercado e determinou o cancelamento da viagem que Haddad faria à Europa para apressar o anúncio das medidas.

Uma rodada de discussões ocorreu já na tarde desta segunda-feira (4) entre Lula e Haddad, com a presença de ministros da área econômica.

Após a reunião, a assessoria do Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que o “quadro fiscal do Brasil foi apresentado e compreendido”. Mais cedo, Haddad havia declarado que os ajustes estão na “reta final”.

Sob expectativa das medidas, o mercado se acalmou e a moeda americana recuou, fechando o dia cotada a R$ 5,78.

Outros encontros de Lula com ministros foram marcados para esta terça-feira (5). Embora Haddad tenha sinalizado que o anúncio deve ocorrer nesta semana, o governo ainda não definiu a data.

Lula terá de entregar algum corte de gastos

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que Lula sabe que terá de entregar “alguma coisa” em relação às despesas, embora estivesse apostando em “tourear” o mercado.

“Se não tivesse acontecido essa ‘hecatombe’ no final da última semana, com essa pressão no câmbio, o governo não se mexeria”, afirma Juliana Inhasz, economista do Insper.

Para ela, o governo teme o desgaste com os setores que vão perder com as medidas, mas não tem opção. “Não fazer o ajuste, para Lula, significa um tiro no pé”, diz.

A expectativa do mercado financeiro passa agora a se concentrar no valor dos cortes e nas áreas afetadas dentro das despesas obrigatórias, que consomem mais de 90% do orçamento e estrangulam o espaço para investimentos e custeio da máquina pública.

Cálculos do governo demonstram que, se nada for feito, o espaço para despesas não obrigatórias – que tem previsão de R$ 104,9 bilhões em 2026 – diminuirá até chegar a apenas R$ 11,8 bilhões em 2028, o que significaria a paralisia no governo federal, além do impacto na dívida pública.

Incrementada pelo ciclo de alta de juros, a dívida bruta do setor público deve atingir 84,3% do PIB em 2026 e 90% em 2032, segundo a mediana das projeções coletadas pelo boletim Focus, do Banco Central.

“A gente espera que este pacote traga uma coisa efetivamente estrutural, que realmente mexa com a questão dos gastos”, diz Rodrigo Moliterno, Head de Renda Variável da Veedha Investimentos. “Não pode ser algo paliativo e deve ser algo entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Abaixo disso, o mercado pode voltar a ‘ficar azedo’.”

Para Sílvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, mais importante que o valor do corte é a “sustentabilidade” do ajuste. “Será preciso transmitir uma mensagem de que a questão fiscal foi minimamente equacionada”, diz. (Gazeta do Povo)

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