O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Márcio Pochmann, procurou ministros do governo Lula (PT) para discutir as dificuldades que vem enfrentando na relação com servidores do órgão, ao menos desde setembro do ano passado.
O contato foi feito com a Secretaria-Geral da Presidência e com o Ministério da Gestão, segundo relatos de integrantes do primeiro escalão do governo. O assunto também chegou ao Ministério do Planejamento —ao qual o IBGE é vinculado.
De acordo com as mesmas pessoas, as divergências entre Pochmann e os servidores ficaram, até agora, restritas aos auxiliares de Lula e ainda não foram levados à mesa do presidente. Elas lembram ainda que o economista, que já presidiu o Instituto Lula, mantém canal direto com o presidente.
A gestão do economista, indicado por Lula para o comando do IBGE, virou foco de uma crise que se arrasta desde o ano passado com protestos de funcionários do órgão.
O tema ganhou força neste mês de janeiro, quando dois diretores entregaram seus cargos no instituto. Divergências com a gestão Pochmann teriam sido pontos centrais da decisão.
Nesta semana, uma carta assinada por gerentes e coordenadores de pesquisas do IBGE afirmou que o clima está “deteriorado” e que as lideranças encontram “sérias dificuldades” para realizar suas funções.
Outra queixa de servidores residiria na decisão do retorno gradual ao trabalho presencial e na mudança de endereço do instituto, sem prévia negociação com seus funcionários.
Os servidores cobram mais diálogo com o comando do órgão nas decisões, além da revisão de projetos da atual gestão, principalmente a criação da Fundação IBGE+, que poderá captar os recursos privados para a produção de trabalhos.
O estatuto desse novo órgão abre possibilidade para a realização de trabalhos para organizações públicas ou privadas. A Fundação IBGE+ chegou a ser apelidada por críticos de “IBGE paralelo”.
A Assibge, associação que representa os servidores do órgão, diz que a fundação foi desenhada de forma sigilosa e pegou o corpo técnico de surpresa.
A presidência do IBGE, por sua vez, rebateu as críticas sofridas ao longo dos últimos meses. Em comunicado, chegou a declarar que o órgão é alvo de “mentiras” por parte de trabalhadores, ex-funcionários e instituições sindicais. A manifestação gerou indignação no corpo técnico.
Mesmo com esses ruídos, aliados do presidente afastam, pelo menos por ora, a hipótese de exoneração de Pochmann, lembrando que essa foi uma escolha pessoal do presidente. À época, Lula manifestou contrariedade com as críticas feitas ao aliado.
Lula ficou particularmente incomodado com as suspeitas de manipulação de dados levantadas contra o economista, por quem tem apreço. Lula chegou a classificar como uma descortesia supor que, na presidência do IBGE, Pochmann adulteraria dados.
Interlocutores do presidente também contestaram a versão de que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, tinha sido desprestigiada com a escolha, lembrando que ela não apresentou objeção ou alternativas ao nome do economista.
A relação entre Pochmann e Tebet é descrita como cordial e respeitosa. Ele costuma se reportar à ministra, apesar do trânsito direto com o presidente.