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Piscicultura no Sertão: mais renda, mais emprego, mais nutrição

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Foto: reprodução

Por Geraldo Eugênio*

Interessante que num período de 30 anos conseguimos deixar de contar com as verdadeiras fábricas de produção de alevinos existentes em várias instituições públicas no estado de Pernambuco e em todo o Nordeste a exemplo do DNOCS, do IPA, da CODEVASF, entre outras.

O açude começou a pegar água e se iniciava a distribuição dos filhotes que entre seis e oito meses à frente se transformavam em peixes pesando entre oitocentas e mil gramas prontos para o comércio. Os imóveis que contavam com um bom volume de água ou uma fonte permanente passaram a ter uma fonte adicional de renda substancial. Não é à toa que um quilo de tilápia em qualquer feira não custa menos de dezesseis reais e o filé ao redor de quarenta, uma vez que se necessita em média dois quilos e meio de peixe para se obter um de filé devidamente limpo.

Milhares de homens e mulheres que viviam ao redor de açudes públicos foram capacitados a aproveitar tudo do peixe, desde a carne aos ossos e gestão do negócio. Aprender a fazer conta e saber o que era investimento, renda e lucro.

As instituições públicas em desmonte

No caso das águas públicas a situação logo deu sinal de cansaço. Não havia obrigação por parte dos beneficiários, somente direitos. O alevino era gratuito, a energia e até o transporte para as feiras ou locais de comercialização. Manutenção e reposição do que faltava era da responsabilidade do “governo”, bem como o controle do fluxo de água na maioria dos açudes. O resultado é que com alguns períodos de secas, a elevação dos custos, a depreciação dos estoques de peixes e a gestão paternalista sacrificou a iniciativa, passando a ser, o que não é negativo, uma opção de exploração das águas das barragens do Rio São Francisco totalmente privada, por exemplo com Itaparica sendo a melhor representação do que é possível ser feito.

A revolução que trouxe a domesticação da tilápia

É importante deixar claro que os ganhos de produtividade na produção de alimento foram excepcionais em vários ambientes e espécies. O exemplo da Tilápia é interessante. A partir da domesticação da tilápia do Nilo, Sarotherodos niloticus, de origem Africana, há menos de cem anos, o que se viu foi uma disseminação exponencial no Brasil e em toda a América do sul, alcançando a América do Norte, nas regiões mais ao sul dos Estados Unidos.

São várias as espécies de tilápia em cultivo. Um animal que se adapta a água de diferentes teores de sais, apresentando um manejo fácil, flexível e que é facilmente dominado por agricultores ou pecuaristas que se tornaram piscicultores.

No Brasil, em particular na região Amazônica, outros peixes têm sido criados, a exemplo do tambaqui, do dourado e até do surubim, este último uma espécie que quase foi extinta no Submédio e Baixo São Francisco, outrora uma das principais iguarias da região. Quando se encontra um restaurante oferendo surubim nas capitais do nordeste, quase sempre foram adquiridos do Centro Oeste e da Amazônia.

O mercado continua promissor

Tecnologia boa é aquela que se vê em aplicação de forma espontânea. No caso da piscicultura, apesar de ainda muito ter o que ser feito, somente a exploração da tilápia, conhecimento dominado e transferido, seria um grande ganho para os pequenos e médios produtores, para rendeiros, posseiros e para as empresas especializadas. O mercado, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo continua em alta e os preconceitos iniciais quanto ao sabor, a cor da carne e da pele, a presença de espinhas foram diminuídos ou desapareceram. Pratos refinados passaram a usar a tilápia em suas receitas. Por incrível que pareça, até a moqueca, que tem como peixes de referências o robalo e o abadejo, em regiões mais tropicais onde essas espécies de água fria não são facilmente encontradas chega a ser preparada com filé de tilápia. Que não nos ouçam os capixabas que têm este prato, com razão, como a diva da culinária do Espírito Santo.

Reconhecimento

Em Pernambuco, o esforço para se desenvolver a piscicultura tem um histórico em que foram envolvidas de forma direta a SUDENE, o DNOCS, com suas bases de piscicultura, a CODEVASF através de um convênio com instituições húngaras, ainda nos anos setenta do século passado, procurou difundir a aquicultura em um sistema de consórcio que incluía a produção de arroz, patos e peixes na mesma área. O IPA que através de sua base de piscicultura de Serra Talhada supria a demanda por alevinos no Sertão do Pajeú e Sertão do Moxotó. Neste caso não podendo deixar de fazer referência aos esforços de um engenheiro de pesca que liderou o processo ao longo de décadas, o Carlos Augusto Guerra e a UFRPE, primeira universidade brasileira a constar com um curso de engenharia de pesca e que ao fundar o campus da UFRPE-UAST, reafirmou uma segunda opção além do curso de Recife.

Fica para uma próxima coluna a evolução do cultivo de camarão na região Sertaneja, desde o camarão de água doce até a sacada que tem sido o cultivo de camarão de água salgada. Que se reconheça, um grande negócio.

*Professor Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE-UAST

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