Preços subiram com a compra de mandioca de São Paulo e de Minas Gerais
Adriana Guarda / Jornal do Commercio
O nordestino (quem diria) está dependendo da produção de mandioca do Sudeste para ter farinha no prato. A estiagem prolongada na região diminuiu a área plantada e a colheita da raiz nos últimos anos. Sem matéria-prima na vizinhança, muitas casas de farinha fecharam as portas em Pernambuco e as que resistiram estão “importando” mandioca de Estados como São Paulo e Minas Gerais. Este ano a escassez na oferta será ainda maior por conta de problemas climáticos no Pará e no Paraná (os dois maiores produtores do País). Para o consumidor, essa matemática entre oferta e demanda se reflete no preço do produto no supermercado. Em fevereiro, o quilo da farinha subiu 13,7% chegando na prateleira por R$ 6,70 (mais caro do que o feijão).
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Empresa tradicional em Lajedo (no Agreste), a Farinha Chico Ramos está comprando mandioca de São Paulo. “Estamos trazendo a tonelada por R$ 550 e a expectativa é que suba para R$ 600 nos próximos dias. Além de não ter oferta local, o rendimento da mandioca nordestina está baixo e não compensa. Enquanto uma tonelada da raiz de São Paulo rende cinco sacas de 50 quilos, a de Arapiraca (AL) está dando, no máximo, 3,5 sacos”, compara o empresário Jailson Ramos. A fábrica conta com corretores para mapear a oferta em outros Estados. “Goiás também tem mandioca, mas está chegando aqui por R$ 700 incluindo o valor da tonelada e o frete”, completa.
Na avaliação de empresários do setor é preciso incentivar a retomada da produção local de mandioca. “A atividade está muito instável. Além da seca, o preço também influencia na disposição dos agricultores para plantar. Se está ruim eles migram para outras culturas. Comprávamos raiz na região em Alagoas e no Rio Grande do Norte, mas agora estamos trazendo de Minas Gerais. O frete custa R$ 330 e a tonelada está na casa dos R$ 250. Isso quer dizer que a tonelada chega aqui por R$ 580 e nós vendemos a saca de farinha por R$ 150”, diz o empresário José Cleiton da Silva, da Farinha Quatis, em Lagoa de Itaenga (Zona da Mata).
As casas de farinha menores ainda conseguem comprar mandioca nordestina. Há sete meses, o pequeno empresário Osenir da Silva tinha suspendido a produção da fábrica por causa dos preços poucos atrativos do produto. “Agora que melhorou resolvi voltar e estou conseguindo trazer mandioca da Paraíba porque minha produção é pequena e vendo para os atravessadores que revendem para empacotadoras e feiras livres”, diz. Antes de investir na casa de farinha Oseni era motorista e trabalhava transportando mandioca do Nordeste para Lagoa de Itaenga.
Além da seca no Nordeste, o excesso de chuvas no Paraná e a diminuição da produção no Pará deixaram o mercado da raiz instável. “A mandioca não está entre as culturas mais voláteis, mas a cada cinco a oito anos acontecem ciclos negativos. No ano passado os preços estavam tão baixos que compramos cerca de 22 mil toneladas de farinha para fazer estoque. Agora a oferta reduziu, as cotações subiram e ainda existe expectativa de viés de alta para os próximos meses”, afirma o gerente de Alimentos Básicos da Conab, Sérgio Santos.
Entre 2010 e 2016, a produção de mandioca do Nordeste diminuiu de 8 milhões para 5,7 milhões de toneladas (-28,7%). Em Pernambuco, a produção caiu pela metade, saindo de 66 mil para 31 mil toneladas. “A produção da raiz é diretamente proporcional ao volume de chuva registrado no seu ciclo produtivo. Por isso, nos últimos 5 anos, a produção da mandioca teve uma redução média de 50%, enquanto a diminuição da precipitação pluviométrica foi de 49%”, compara o presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Gabriel Maciel. O encolhimento da oferta reflete nos preços. Levantamento do Dieese de fevereiro mostra alta nos preços em 12 das 14 capitais do Norte e Nordeste.