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Pandemia faz inflação ir a 10% em 2021 no Brasil

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Foto: reprodução

IPCA foi puxado pelo encarecimento dos combustíveis e energia elétrica; em dezembro, índice desacelera para 0,73%

Por Jovem Pan

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2021 com alta de 10,06% em meio à disparada do preço das commodities, a desvalorização do real ante o dólar e a crise hídrica. Este foi o maior registro para o indicador oficial da inflação brasileira desde 2015, quando fechou com avanço de 10,67%, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A atual série histórica iniciou em 1994, mas considera os dados a partir de 1995, primeiro ano cheio após a criação do plano real. Em 2020, o IPCA foi a 4,52%. O resultado do ano passado ficou consideravelmente acima da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central (BC), com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. O IPCA veio em linha com o esperado pelo mercado financeiro. Economistas e entidades consultadas pela autoridade monetária projetaram a inflação a 9,9% ao fim de 2021, conforme o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 10. Em dezembro, o IPCA desacelerou para 0,73%, ante avanço de 0,95% em novembro. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, fechou 2021 com alta de 10,16%. O indicador, que é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, encerrou dezembro com alta de 0,73%.

O resultado de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo Transportes, que apresentou a maior variação (21%) e o maior impacto no acumulado do ano. Em seguida vieram Habitação (13,05%) e Alimentação e bebidas (7,9%). Juntos, os três grupos responderam por cerca de 79% do IPCA de 2021. “O grupo dos Transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis”, afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. “Com os sucessivos reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,4% em 2021. Já o etanol subiu 62,2% e foi influenciado também pela produção de açúcar”, complementa. Já no grupo Habitação, a principal contribuição veio da energia elétrica (21,2%). “Ao longo do ano, além dos reajustes tarifários, as bandeiras foram aumentando, culminando na criação de uma nova bandeira de Escassez Hídrica. Isso impactou muito o resultado de energia elétrica, que tem bastante peso no índice”, diz Kislanov. O botijão de gás teve o segundo maior impacto no grupo, com acumulado de 36,9% em 2021.

No grupo Alimentação e bebidas, a variação de 7,94% foi menor que a do ano anterior (14,09%), quando contribuiu com o maior impacto entre os grupos pesquisados. Neste segmento, se destacaram a alta do café moído (50,2%) e do açúcar refinado (47,8%). “A alta do café ocorreu principalmente no segundo semestre, pois a produção foi prejudicada pelas geadas no inverno. Já o preço do açúcar foi influenciado por uma oferta menor e pela competição pela matéria-prima para a produção do etanol”. O grupo dos vestuários (10,31%) fechou 2021 com a quarta maior variação entre os grupos. “Este tinha sido o único grupo com queda em 2020. Em 2021, apresentou uma recuperação de preços, relacionada à retomada da circulação de pessoas, mas também ao aumento dos custos de produção, devido à alta dos preços do algodão e do couro. Além disso, tem o componente sazonal do final de ano”, afirma Kislanov.

A aceleração da inflação foi pressionada pela desvalorização do câmbio, o encarecimento do custo de produção pela falta de insumos e matérias-primas na indústria e os rescaldos da crise hídrica que assolou o país em 2021. O presidente do Banco Central deve publicar uma carta aberta ao ministro da Economia quando o IPCA fica acima ou abaixo da banda. A declaração referente aos dados do ano passado será a sexta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999. Não há previsão para a publicação da carta. A inércia inflacionária herdada em 2022 já contaminou as expectativas. Para este ano, a mediana da pesquisa feita pelo Banco Central apontou IPCA a 5,03%, também acima do limite máximo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).  A autoridade monetária persegue a meta de 3,5% em 2022, com piso de 2% e teto de 5%.

No esforço de trazer a inflação para a meta em 2022, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros da economia brasileira para 9,25% em dezembro. Foi a segunda alta seguida de 1,5 ponto percentual. O BC sinalizou nova aplicação de mesma intensidade no encontro agendado para 1º e 2 de fevereiro,  jogando a Selic para 10,75% ao ano. O mercado estima que a taxa vá a 11,75% até o fim deste ano. A autoridade monetária já deixou contratada uma série de novos ajustes para cima ao longo dos próximos meses. O patamar, no entanto, ainda não é certo, afirmou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, no fim do ano passado. Para 2023, os analistas estimam o início de uma nova temporada de cortes, trazendo os juros para 8%, enquanto para 2024 a taxa deve ser reduzida para 7% ao ano.

O mercado financeiro estima que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 0,28% ao fim deste ano — ante projeção de alta de 4,5% prevista para 2021. A escalada dos juros é o principal fator para a desaceleração das atividades, já que a Selic elevada aumenta o “preço do dinheiro” e desestimula a tomada de crédito para investimentos. Ao mesmo tempo, o ciclo eleitoral joga uma série de incertezas e inibe grandes aportes financeiros que poderiam levar à melhora da economia. A desconfiança de que o governo não consegue manter as contas no controle eleva o risco-país ante os olhos dos investidores, que passam a cobrar mais para trazer dinheiro para cá. Isso impacta na depreciação de uma série de indicadores, como o câmbio. Por fim, a desvalorização do real ante a moeda norte-americana encarece produtos importados, o que acaba alimentando a inflação.

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