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Pajeú, o Estado independente   

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Por Magno Martins

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) saiu na frente entre os Estados nordestinos e decretou um lockdown na verdadeira expressão da palavra, ou seja, fechou tudo, inclusive os supermercados, deixando apenas abertos postos de gasolina e farmácias. Em Pernambuco, a expectativa se dava na mesma direção, mas o governador Paulo Câmara (PSB) amarelou e permitiu até lojas de automóveis abrirem.

Três dias depois, numa reunião por videoconferência, com a presença sem a totalidade dos 17 prefeitos do Sertão do Pajeú, se curvou ao Ministério Público da 3ª Circunscrição, junto com a Associação Municipalista, cujo presidente é o ex-prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota, e bateu o martelo: adotou com exclusividade para o Pajeú o mesmo lockdown no modelo cearense. A partir da próxima quarta-feira (24) e até o domingo (28), só funcionam postos e farmácias na região.

O quadro da pandemia no Pajeú é grave, mas ainda sem fila para UTI, como está ocorrendo desde ontem em Petrolina e mesmo assim o São Francisco não radicalizou nas medidas restritivas. Cinco dos 17 prefeitos da 3ª Circunscrição, entre eles Serra Talhada, o maior município da região, não aderiram ao que foi proposto pelo MP e acatado pelo governador, com um agravante: o promotor de Serra ficou ao lado da prefeita Márcia Conrado (PT), o que mostra, na prática, que a medida não tem sequer a unanimidade dos senhores zelosos pela Justiça no Pajeú.

O que mais intriga nisso tudo é que o Pajeú, que não está diferente da Região Metropolitana do Recife nem de nenhuma região do Estado, parece ter virado um Estado de exceção, uma capitania hereditária, na qual quem dá as normas e rege a economia de mercado é o MP com a Amupe. O resultado dessa decisão, que parece ter mais cheiro do odor da política, é o agravamento do quadro econômico da região.

Ao mesmo tempo, ao determinar o fechamento de tudo, com o aval do governador, que não teve a mesma coragem de Camilo Santana, o MP do Pajeú está mandando a população fazer estoque de alimentos para não morrer de fome durante os quatro dias. Afinal, não é possível encontrar feijão e carne nas farmácias nem tampouco nos postos de combustíveis. Na extrema necessidade, é de se perguntar ao MP: quem estiver sem estoque de alimentos em Afogados da Ingazeira, por exemplo, poderá comprar em Serra Talhada, que não aderiu?

Ninguém sabe responder, mas um prefeito, que pediu para não ser identificado, disse que a Polícia vai fazer barreiras nas entradas e saídas das cidades, impedindo a circulação de carros. Nunca se viu na história de Pernambuco algo igual. É como se o Pajeú estivesse dando uma lição ao governador de como fazer um verdadeiro lockdown. Duvido se fosse Eduardo Campos governador esse estado de exceção viesse a vigorar.

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