O insucesso no projeto da reeleição ainda é assimilado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Passadas mais de 24 horas da proclamação do resultado da eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele segue recluso no Palácio da Alvorada, sem perspectiva de um pronunciamento reconhecendo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo interlocutores, Bolsonaro ainda define a melhor estratégia para o discurso e o tom a ser empregado.
Após reuniões entre a noite de domingo (30) e esta segunda-feira (31), é esperado que o presidente reconheça o resultado das eleições nas próximas horas, mas não parabenize Lula pela vitória.
O silêncio do presidente é atribuído por interlocutores a um misto de decepção e análise de cálculo político. A maioria de seus auxiliares mais próximos defende que ele reconheça o resultado da eleição, mas outros alertam para a melhor forma de fazer isso, principalmente após os protestos organizados por caminhoneiros em rodovias de vários estados do país.
A manifestação dos caminhoneiros é declaradamente política. Ao ponto de líderes da categoria afirmarem que uma condição para a desobstrução de trechos em rodovias é um pedido formal de Bolsonaro. Segundo interlocutores do governo, porém, os protestos não serão estimulados pelo presidente, que teme pelos impactos dos atos à economia.
Contudo, esses transportadores e uma parcela da base “raiz” do presidente relutam em aceitar o resultado das urnas e criticam posturas de aliados do governo que reconhecem a derrota, a exemplo das críticas e reações negativas aos posicionamentos feitos por integrantes que atuaram na campanha de Bolsonaro.
Inclusive, havia uma expectativa de que Bolsonaro fizesse um pronunciamento ainda nesta segunda-feira (31), mas a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) desmentiu logo em seguida.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que exerceu a função de coordenador-geral da campanha, se manifestou nesta segunda e foi criticado pela militância nas redes sociais. “Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil!”, escreveu ele.
Ainda na noite de domingo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi outro a se manifestar e a ser criticado. “Você resgatou o nosso orgulho de ser brasileiro. Obrigado, Jair”, comentou. O mesmo ocorreu com a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), após se posicionar nas mídias. “Perdemos uma eleição, mas não perdemos o amor pelo nosso país”, disse.
Cientes da rejeição do eleitorado, uma corrente política próxima ao presidente sugere que ele deve permanecer em silêncio no aguardo do relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. Mas o discurso majoritário é de reconhecimento do resultado, reforçam interlocutores.
Qual é o clima no governo após a derrota de Bolsonaro
Desde a confirmação do resultado no domingo, alguns interlocutores do governo dizem que o clima é de “velório” nos Palácios do Planalto e da Alvorada, onde Bolsonaro tem se reunido com poucos auxiliares. O presidente ficou abalado com a derrota e recebeu poucas pessoas.
Deputados e senadores aliados, por exemplo, tiveram agendas negadas. O presidente recepcionou os filhos, o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (Republicanos). Também se encontrou com auxiliares próximos, como o ajudante de ordens, Mauro Cid, e o general Braga Netto, vice na chapa.
Segundo o site Poder 360, Bolsonaro também recebeu o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e conversou por telefone com o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. Segundo o jornal Valor Econômico, entre reuniões e sugestões para a elaboração da mensagem de reconhecimento do resultado eleitoral, ele também falou com os ministros da Economia, Paulo Guedes; das Relações Exteriores, Carlos França; e Fábio Faria, das Comunicações.
A maioria desses nomes defende o reconhecimento do resultado e apoiam as manifestações feitas por aliados como Faria, Flávio e Damares. Para a base, é importante pavimentar um caminho para o presidente se manifestar, apontam interlocutores. Para assessores, seria pior se todos ficassem em silêncio, uma vez que poderia alimentar uma sensação de que há uma “segunda opção” e que Bolsonaro cogita isso, o que não é o caso.
Cientes de que o mercado e chefes de Estado já precificaram o resultado das eleições, auxiliares de Bolsonaro recomendam uma resposta até quarta-feira (1º), quando começa formalmente o período de transição, em que a equipe de Lula passa a ter o direito de receber informações do governo federal.