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O míssil chamado Tonca – Final

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Foto: reprodução

Este ano vai ter eleição municipal. O Recife, especialmente, servirá para se medir o poder de fogo do PSB. O governador Paulo Câmara e o prefeito Geraldo Júlio, mais uma vez sob o comando da poderosa Renata Campos, devem ser mais fiscalizados quanto aos velhos truques que os órgãos de controle fazem de conta que não existem. Nesse contexto, muitos acham que Renata, cada vez mais, concentra sua confiança em Geraldo Júlio, desafiado a se manter no lugar-tenente, sobretudo depois que abraçou João de Andrade Lima Campos como seu sucessor.

Alguns, com olhar mais crítico, acham que, no fundo, Renata, através de Geraldo e também de Paulo, quer mostrar que o filho é melhor do que o pai. Seria a forma de legitimar sua importância como “rainha mãe” em Pernambuco. Mencionam que Renata tem ideia fixa na cabeça, envolta no seguinte raciocínio: Eduardo começou como deputado estadual aos 25 anos conquistando apenas 22 mil votos, terceiro mais votado, superado apenas por Oswaldo Rabelo Filho e Humberto Costa.

Já seu filho, aos 23 anos, foi o federal mais votado de toda a história de Pernambuco, com 460.387 mil votos. Eduardo saiu candidato a prefeito do Recife aos 27 anos, mas perdeu feio para Jarbas Vasconcelos, ficando em quinto lugar – menos de 8% dos votos válidos. Até o folclórico Newton Carneiro teve mais votos do que ele. Agora, Renata quer que o filho vença a eleição para prefeito da capital com apenas 26 anos, logo no primeiro turno, para entrar no Guines Book como o prefeito mais novo da história da capital.

Quer vê-lo ainda como o governador mais novo da história de Pernambuco, muito mais novo que o pai. E em seguida, presidente da República, também o mais novo da história do Brasil. Esse é o plano de Renata, segundo várias fontes ouvidas. Muitos consideram que Renata talvez não entenda da medida correta que Eduardo era um guerreiro por conta própria. Ele enfrentou todas as batalhas, sempre com máxima coragem e inteligência, sem estar protegido sob o manto da liderança da mãe ou de qualquer parente.

Enfrentou com bravura derrotas e crises da mais alta gravidade, sempre saindo maior do que entrou. Apesar de acharem que era o netinho de Arraes, na verdade o avô não dava espaços a ele, pois sabia que Eduardo era um líder nato, muito acima do próprio velho avô, como se provou depois. Algumas pessoas sabem que Arraes foi radicalmente contra Eduardo ser candidato à reeleição de deputado federal em 2002 e também não queria Eduardo ministro. Eduardo, porém, juntava todo mundo, mesmo os antigos inimigos mais figadais.

Ou seja, não funciona ser superprotegido para virar líder. Muito pelo contrário, isso enfraquece a personalidade, abala a autoconfiança. Os grandes líderes conquistam os espaços com suas próprias energias e jamais por conta de “sonhos” da mãe ou de qualquer parente. Na prática, Renata está colocando o seu filho João num jogo de alto risco. Imagine se ele perder a eleição, certamente terá enormes dificuldades para repetir a façanha de deputado federal mais votado.

Curiosamente, talvez só depois de uma derrota ou várias derrotas é que João poderá realmente amadurecer e provar se tem mesmo potencial para ser líder, longe do poder da mãe e o dos usos abusivos das máquinas públicas gigantes e de campanhas super milionárias. E aprender a lição do pai de saber juntar os contrários.

Mesmo sabendo disso tudo, Geraldo Júlio é o mais entusiástico apoiador do “sonho grande” de Renata para o filho, tendo Paulo Câmara como auxiliar. E é aí que Geraldo vem se fortalecendo e assumindo o papel de principal operador de Renata, sobretudo para ser o maior mentor extra-família de João. Isso sensibiliza muito a “mãe-coruja” mor de Pernambuco. E para tanto, Geraldo vai jogar todas as cartas, especialmente as debaixo da mesa, pois entende que é também o caminho para realizar seu próprio sonho de ser governador, depois supostamente sucedido por João.

Vale aqui um comentário que ouvi de uma pessoa em Pernambuco muito ligada a Tonca: não se entende como Armando Monteiro, Mendonça Filho, Bruno Araújo e tantos outros políticos tarimbados não montaram um sistema de inteligência eleitoral para provar os crimes de abuso do poder econômico e uso da máquina pública nas campanhas de Paulo Câmara e do Geraldo, além da própria eleição de elevados gastos de João para deputado federal.

Todos sabem que crimes eleitorais têm acontecido por parte do grupo que atualmente domina a política de Pernambuco. Mas ninguém fez absolutamente nada para registrar, provar e impugnar de acordo com a Lei Eleitoral. Levantamos que Tonca parece estar se programando para fazer isso na eleição deste ano, em articulação direta com Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, homem forte do Governo federal em Pernambuco.

Quanto aos processos judiciais, relatados no capítulo de ontem, pessoas do círculo de Tonca reclamam que em Pernambuco não se observa a operacionalização da Justiça no mesmo ritmo e intensidade do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e, mais recentemente, na Paraíba, em termos de investigação seguida do início de punição. Dizem que a revolta do grupo também é que Renata, Geraldo Júlio e Paulo Câmara se confiam em manter à distância o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Judiciário como um todo, achando irrelevantes os processos que se encontram em andamento.

Na prática, essas mesmas pessoas acham que o Judiciário pernambucano está engessado, julgando que há muito que se apurar em relação às denúncias de corrupção em Pernambuco numa escala certamente maior que na Paraíba, para citar apenas como exemplo de que ali a justiça de fato está agindo e funcionando, estando presas 27 pessoas arrastadas pela recente operação policial que prendeu e depois soltou o ex-governador Ricardo Coutinho.

Mas até hoje tudo segue como antes no Palácio das Princesas com Paulo Câmara e no Palácio Capibaribe com Geraldo Júlio. Pelo que escutamos, as práticas continuam no mesmo ritmo de sempre, pois Geraldo Júlio e Paulo Câmara, sob a liderança de Renata, se consideram intocáveis em parte por conta da morte de Eduardo e também pela penetração que o grupo tem no Judiciário e demais órgãos de controle.

Existem os comentários em off de que a primeira dama de Pernambuco, a juíza Ana Câmara, está o tempo inteiro sobremaneira segura de conseguir manejar bem o Judiciário, com leve influência na Polícia Federal, por conta do secretário Antônio de Pádua, delegado top da PF. Todos têm a mais absoluta certeza que controlam o Tribunal de Contas do Estado, através do conselheiro Marcos Loreto, primo-irmão de Renata e onde ela mesma trabalha.

Também se observou que para o grupo de Renata até o próprio Ministério Público Federal é pelo menos monitorado e amenizado. Ocorre que até mesmo no MPF Renata tem outro primo-irmão com papel de liderança, o procurador federal Antônio Carlos de Vasconcellos Coelho Barreto Campello, que foi inclusive membro do TRE, considerado profissional muito sério, que não tem envolvimento com absolutamente nenhum grupo, porém gente da família de Renata sempre busca alguma forma de acesso para tentar maneirar pela situação de “extremo sofrimento” da prima.

Isso para não falar no Ministério Público Estadual que, frente a todos os tipos de suspeitas de corrupção nos governos de Pernambuco e do Recife, se comporta com um silêncio ensurdecedor. As perguntas que ficam para aqueles ligados a Tonca: Pernambuco vai ou não também entrar na rota do fim da impunidade ou Renata, Paulo, Geraldo e seus asseclas continuarão a velha tradição patrimonialista que corrói o setor público em Pernambuco? “O Míssil Chamado Tonca” será capaz de desmontar as barreiras múltiplas que até este momento protegem os donos do poder em Pernambuco?

Cobram que os órgãos de controle não podem deixar de aprofundar a participação do grupo de Renata no escândalo do Lava Jato em Pernambuco, bem como todo o esquema com as empreiteiras e outros contratos bilionários, cujas licitações e pagamentos eram realizados pelo secretário da Administração e depois Fazenda, Paulo Câmara, e mega projetos coordenados pelo secretário de Planejamento e depois Desenvolvimento Econômico, Geraldo Júlio.

Não teria sido apenas o projeto da Arena que eles estariam envolvidos e sim em todas as ações sistêmicas em Pernambuco, tendo Aldo Guedes na época de Eduardo como o “coletor” único das contribuições, mas depois o jogo continuou para as duas eleições de Paulo e a reeleição de Geraldo, bem como a eleição de João para deputado federal, todas as eleições hiper milionárias.

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