O MDB velho de guerra quer voltar a dominar o Congresso Nacional. Desde a reabertura democrática que o partido descobriu que dominar Câmara e Senado é conter e dirigir o governo seja qual for o presidente da República. Foi assim que Ulysses Guimarães infernizou o governo Sarney e dirigiu atos importantes dentro e fora do Palácio do Planalto. Só Antônio Carlos Magalhães, então do PFL tirou o PMDB do comando do Senado e pronto, os Jucás, Barbalhos, Renans, Sarneys, Eunícios e Garibaldis deram as cartas nas relações políticas.
No Senado atual, foi um acidente. Renan Calheiros tentando pela quinta vez voltar à presidência, deixou escapar a eleição para o iniciante no grupo do cafezinho do Senado, o Davi Alcolumbre, uma espécie de vereador nacional, do Amapá, mas apoiado pelo então ministro influente, chefe da Casa Civil da Presidência, Onyx Lorenzoni. Apoiado pelo grupo contra Renan, Davi derrotou o gigante político, entrou para o comando e se instalou como camaleão. Agradou as raposas da política e só não foi reeleito porque o Supremo decidiu dizer não e ficar com a Constituição, mas esteve perto da reeleição inconstitucional. Foi assim que o DEM chegou de forma surpreendente ao comando do Senado.
Na Câmara, não foi tão difícil. Vindo de dois mandatos de presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia construiu uma maioria com base em vários partidos, inclusive esquerda. O primeiro mandato foi tampão em substituição a Eduardo Cunha e os outros dois reeleições já permitidas. Foi uma organização por metas e inércia que é uma forte arma na política. O DEM saiu de partido pequeno, quase em extinção para ocupar cinco ministérios e as presidências da Câmara e Senado. A situação agora se inverte e o MDB, ex-PMDB, pode ocupar as presidências da Câmara e do Senado e voltar a ditar as normas políticas.
A estratégia do MDB é diferente do jeito político do DEM. Nada de gritarias, palavras de ordem e oposição dura, mas força política de bastidores. O Congresso é poder dominante na política e no momento está em baixa. A promessa de campanha do candidato Baleia Rossi é exatamente a retomada do poder. Não é o debate aberto e raso de oposição ou adesão ao governo, mas a discussão sobre dividir o poder. É doçura ou travessura, como se diz nas festas das bruxas. Pelo jeito do governo Bolsonaro, a opção pode ser travessuras. Neste caso o partido come pelas beiradas, sem os discursos estridentes nem críticas diretas ao presidente. Mas nunca se esqueça de que foi deste partido que partiram as articulações para impeachments de dois presidentes da República.
O deputado Arthur Lira é o candidato polarizado com o candidato Baleia Rossi, do grupo do presidente da Câmara. Líder da entidade chamada Centrão, Arthur Lira não é criança e nem calouro na política. A promessa é a mesma: uma nova terra onde jorra pão e mel, mas para o colegas parlamentares. Aí a linguagem é a mesma, troca, retorno do governo e a garantia de reeleição, a linguagem que vale ouro no Congresso. Seja Lira ou Baleia, na Câmara, ou MDB no Senado, o presidente Jair Bolsonaro vai enfrentar um novo ritmo de trabalho, menos estridente, mas profissional na política. É a volta dos métodos antigos. Os aposentados foram chamados para por ordem na casa. Sim, o DEM quer evitar a eleição de um representante do MDB no Senado, mas não será fácil.