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O dilema do prisioneiro Lula

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Ele prefere continuar a posar de vítima na cadeia a arriscar ser solto e fazer campanha para Haddad

Por Hélio Gurovitz – G1 / Foto: reprodução

Por que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu do pedido para ser solto pelo Supremo Tribunal Federal (STF)? De acordo com o próprio PT, porque o plenário aproveitaria para discutir a legalidade de sua candidatura – e ele poderia ser declarado inelegível.

Como não há possibilidade de recurso de uma decisão tomada pelo plenário do Supremo, ele preferiu ficar preso. Mas Lula não será declarado inelegível de qualquer forma mais adiante? Será, assim que o registro de seu nome for impugnado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa. Que diferença faz então? Muita.

Para a população, o ideal seria conhecer todos os candidatos logo, se possível desde o encerramento do prazo para a definição dos nomes, esgotado ontem. Para Lula, o cálculo é diferente. A prisão se tornou um ingrediente essencial na estratégia eleitoral petista.

Isso resulta de um paradoxo. Ao mesmo tempo que despertou as manifestações populares que desencadearam impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato contribuiu para elevar a popularidade de Lula. Permitiu à propaganda do PT adotar o discurso – eficaz – de que ele é vítima de injustiça e perseguição.

Será essa também a alma da campanha eleitoral petista. Desde já, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, vice provisório na chapa encabeçada por Lula, foi apresentado como a “voz” que representa o candidato preso, a clamar por justiça e pelo resgate das políticas que, na visão do petismo, representam os maiores êxitos da Era Lula.

Quanto mais puder disseminar a versão da perseguição, acredita o PT, mais Lula terá o poder de transformar sua popularidade em votos para Haddad. E a perspectiva de poder é, para Lula e para o PT, bem mais importante que a perspectiva de ele ser solto. Mesmo que sua libertação pudesse representar a justiça a que almejam.

O paradoxo é mais que aparente. Revela o dilema essencial a atormentar o prisioneiro Lula. Como ele é mais valioso para a campanha de Haddad? Solto, subindo em palanque ou, ao menos, podendo gravar mensagens para o horário gratuito na televisão? Ou preso, para manter viva entre seus acólitos a esperança e que possa, ele mesmo, ser candidato e voltar ao poder nos braços do povo?

Por ora, Lula prefere ficar na cadeia. A manutenção da ilusão e da fantasia lhe parece mais preciosa que a liberdade. Se puder mantê-la até o final do mês, às vésperas da estreia da campanha televisiva, ele transformará o debate eleitoral até lá numa discussão sobre a candidatura Lula – e isso pode render votos.

Se, ao contrário, ele fosse solto ou apenas declarado inelegível desde já, o discurso da vitimização estaria esvaziado. Os adversários do PT passariam a concentrar seus ataques em Haddad, e Lula passaria do noticiário político para o policial.

O que Lula quer é manter seu nome nas primeiras páginas e na boca do povo. Quer poder controlar o momento em que desistirá da candidatura em prol de Haddad. Quer poder transformá-lo em showmício, como fez com sua prisão. O que Lula não quer é se submeter a uma decisão ágil e definitiva do Supremo, que lhe impeça de manter o controle sobre o passo da campanha.

Mas isso não extingue o dilema. A candidatura Haddad – a única real e viável – ainda patina nas pesquisas. O poder de transferência de voto de Lula é uma incógnita. Sem começar a pensar desde já numa campanha capaz de eleger seu único candidato viável, o PT corre o risco de nem passar ao segundo turno.

Mesmo sem Duda Mendonça nem João Santana, o discurso básico da campanha petista deveria ser óbvio a qualquer marqueteiro: resgatar o “esplendor” e o “passado glorioso” dos governos petistas (lembre que a verdade não é exatamente a alma do marketing político…).

Sabe-se lá se isso convence o eleitor depois de Mensalão, Lava Jato e dos crimes fiscais que levaram à queda de Dilma. Mas insistir conversa de vitimização do presidiário é uma estratégia ainda mais frágil. Pode até agradar a militância ou o eleitor já convencido, mas não atrai um único voto a mais para Haddad. A teimosia pode custar caro ao próprio PT.

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