Prefeito do Recife, João Campos (PSB), pela primeira vez, começa a falar na possibilidade de armar a Guarda Municipal
Por Igor Maciel / JC Online
Finalmente, parece que o pessoal na presidência da República e os prefeitos começam a entender que a Segurança Pública é o tema prioritário na lista dos brasileiros e que isso também é responsabilidade deles.
As linhas são tortas, muito tortas, mas ao menos iniciaram o debate, ao invés de largar na mão dos governadores como sempre fizeram.
Há ainda uma incrível ignorância jurídica, mesclada com uma covardia oportuna, mas as coisas parecem estar mudando.
Guarda
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), pela primeira vez, começa a falar na possibilidade de armar a Guarda Municipal. Isso é bom.
O debate sobre o assunto salta pelas manchetes há meses. Agora, às vésperas das convenções para a eleição de 2024 na qual tenta um novo mandato, vem a declaração. Há todo um ambiente municipal que explica o interesse surpreendente do socialista em colocar-se como favorável ao armamento.
Ele sabe que não pode abrir mão de Lula em seu palanque, mas também sabe que não pode ignorar o eleitorado mais à direita na cidade. Por isso, algumas pautas relacionadas à segurança vão destoar do que era defendido pelo PSB historicamente.
Conservadores
Em 2020, foi também apoiado nesse eleitorado mais conservador que Campos venceu a então petista Marília Arraes (hoje no SD). O mundo dá voltas, e agora o PT está com ele, mas continua sendo o mesmo mundo, com as mesmas pessoas dentro dele, de esquerda e também de direita.
O prefeito acaba se rendendo e muda a trajetória de argumentos em seu próprio partido sobre essa pauta. O PSB governou a prefeitura por oito anos com Geraldo Julio (PSB) e sempre teve posições frontais e opostas em relação a armar a Guarda.
Paradoxo
Nos 16 anos em que governaram o Estado, os socialistas sempre foram contra a Guarda armada no Recife também. O discurso era que isso devia ser para a Polícia Militar apenas. E que à Guarda cabia apenas a proteção ao patrimônio.
O problema é sustentar esse argumento enquanto as prefeituras fazem contratos com empresas de vigilância armada para ajudar a Guarda, como acontece hoje em alguns órgãos da prefeitura.
“Se não precisa de arma, por que precisa de arma?”. Eis a questão e o paradoxo do PSB antes.
Olhar adiante
A decisão de João Campos de começar a armar a guarda também tem a ver com outra eleição, a de 2026. Hoje, os dois setores nos quais a governadora Raquel Lyra (PSDB) tem mais dificuldades de popularidade no Recife são Saúde e Segurança.
Os índices já começaram a melhorar, mas ainda preocupam e só devem ter redução mais forte no ano que vem, quando novos policiais estiverem nas ruas. Se der certo e João for reeleito na prefeitura, poderá dizer que “contribuiu para a melhoria da segurança armando a Guarda”.
É uma aposta futura, que pode render algo depois se a sensação de segurança melhorar para a população.
Lula
Não é só o prefeito. O presidente Lula também parece ter entendido a importância de trabalhar o tema. Em outros governos do petista, auxiliares seus chegavam a repetir que Segurança não era responsabilidade da gestão.
A maioria dos integrantes do Palácio do Planalto sempre foi resistente ao Ministério da Justiça, por exemplo, incorporar o combate ao crime organizado, como acontece hoje. Mas isso mudou e Lula está empenhado agora em aprovar uma PEC da Segurança que levaria mais dinheiro para os estados, com mais participação no planejamento das ações.
É ver aonde isso vai dar.