Por Rosana Hessel*
Depois de 11 semanas com perspectiva estável, o mercado voltou a piorar as projeções para a taxa básica de juros (Selic) em 2024, elevando a mediana das estimativas de 9% para 9,25%, conforme dados do boletim Focus do Banco Central divulgado nesta segunda-feira (30/10). Além disso, piorou a expectativa de crescimento da economia neste ano.
De acordo com o economista e consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, é possível que essa projeção para a Selic de 2024 possa continuar sendo revisada para cima. Ele lembrou que três fatores contribuíram para essa mudança nas projeções, como o comportamento altista dos juros longos norte-americano, a crise internacional com efeitos difusos na volatilidade e risco e, a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na sexta-feira (27/11), sobre a meta fiscal.
“Sem dúvida alguma os economistas irão dar maior peso à fala de Lula acima, mas vejo isso como secundário uma vez que já estava evidente há algum tempo que seria muito difícil atingir a meta, especialmente porque a agenda econômica neste segundo semestre está mais lenta no Congresso que seria desejável”, afirmou Perfeito, que projeta a Selic para o fim 2024 em 10,75%. “Esse patamar não é, de forma alguma, restritiva da atividade, afinal a função de investimento macro tem outros componentes que não apenas juros. Por sinal, se confirmada uma Selic mais baixa no ano que vem poderemos ter uma apreciação do real em 2024”, acrescentou.
As projeções do mercado para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, nesta semana, não haverá mudanças, assim como para a Selic terminal de dezembro deste ano 2023, em 11,75% anuais. Atualmente, a taxa básica está em 12,75% ao ano e são esperados dois novos cortes de 0,50 ponto percentual nas reuniões do Copom desta semana e de dezembro. “O ciclo de corte deverá manter o mesmo ritmo de corte, mas o ciclo será menor”, disse Perfeito.
Ao afirmar que a meta de deficit primário de 2024 não precisa ser zero, Lula disse: “Não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano cortando bilhões na construção”. Na avaliação de economistas do banco suíço UBS, “embora isso não represente um risco iminente para a política fiscal, aumenta o risco a médio prazo, na nossa opinião, especialmente se a economia desacelera ainda mais nos próximos trimestres, conforme projetamos. “Uma alternativa seria promover congelamentos de despesas orçamentais (‘contingenciamentos’), o que pensamos que ser um problema para o governo”, alertaram os analistas em relatório para clientes.
Os economistas Alexandre de Azara, Fabio Ramos e Rodrigo Martins, que esperam um rombo de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, escreveram que a meta fiscal do governo em 2024 “é inviável”. “A meta do Executivo é o déficit primário zero, em 2024, enquanto o consenso é de -0,7% e estimamos -0,9%. No fim, a crítica do presidente coloca um risco para uma mudança na meta; no entanto, por enquanto, isso pode significar apenas alinhamento no direção das estimativas dos analistas privados, que acreditamos estar precificadas”, destacou o documento.
“O importante monitorar é se seus comentários se referem a uma crítica potencial que não é do objetivo, mas da própria regra de despesas. Se a regra de gastos for alterada, pensamos que seria um verdadeiro problema para os mercados. O foco deve estar em uma mudança improvável na regra de gastos. Na nossa opinião, concentrar-se na meta do deficit primário não é a melhor abordagem”, acrescentaram os analistas do UBS.
Quedas de inflação e de PIB
Conforme os dados do Focus, a mediana das projeções do mercado para a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano recuou de 4,65%, na semana passada, para 4,63%, nesta semana, mantendo-se abaixo do teto da meta, de 4,75%. É a terceira redução seguida das estimativas.
No entanto, a mediana das expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuaram mais uma vez, passando de 2,90%, no Focus da semana passada, para 2,89%, para esta semana.
Para 2024, as estimativas para o crescimento do PIB ficaram estáveis em 1,50%, mas a perspectiva para a inflação subiu de 3,8% para 3,9% para o mesmo ano.
*Rosana Hessel é jornalista de economia desde 1995, quando passou a integrar o time da Gazeta Mercantil. Está sempre atrás da boa informação. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo Econômico em 2014 e em 2015 com a equipe do Correio Braziliense.