Médica se queixou de ser classificada como integrante de um gabinete paralelo de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro; aos senadores, ela admitiu a existência de um ‘conselho independente’
A CPI da Covid-19 ouve, nesta terça-feira, 1º, a médica Nise Yamaguchi. O depoimento da imunologista abre formalmente o segundo mês de trabalhos da comissão, instalada para apurar as ações e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia do coronavírus. A oitiva de Yamaguchi atende a requerimentos apresentados pelos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos Rogério (DEM-RO), integrantes da tropa de choque governista no colegiado.
Consultora informal do presidente da República, Nise Yamaguchi foi cotada para assumir o Ministério da Saúde em pelo menos duas ocasiões. A médica é defensora do chamado “tratamento precoce” e do uso da cloroquina e de outros medicamentos do chamado “kit Covid”. Como a Jovem Pan mostrou, embora a imunologista tenha sido apontada como mentora da ideia de alteração da bula da cloroquina, a fim de recomendá-la para o tratamento da doença, o G7, grupo formado pelos sete senadores independentes e de oposição, afirma que este é um “assunto pacificado”. Estes parlamentares, que estão em maioria na comissão, querem avançar sobre o gabinete paralelo, que elaborava políticas públicas de enfrentamento à crise sanitária à margem do Ministério da Saúde. As informações apresentadas pela médica à CPI também serão utilizadas como subsídios para outros depoimentos marcados para o mês de junho.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) questionou se a médica Nise Yamaguchi poderia citar à CPI algum estudo sobre a eficácia da cloroquina que tenha sido publicado em uma revista científica. Ela procurou nas diversas folhas que trouxe à comissão, mas não encontrou. O parlamentar disse que os papéis apresentados são de “pouco valor”. “Espero que um dia a senhora consiga fazer a volta e recobrar a credibilidade”, acrescentou o senador, que é suplente do colegiado.
Nise Yamaguchi disse, há pouco, ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) que se sente “agredida” pela postura dos senadores. Desde o início da sessão, os parlamentares afirmam que a médica integra um gabinete paralelo de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro. “Eu tenho que colocar meu repúdio a situação que estou colocada ali, em um gabinete de exceção. Estou me sentindo aqui bastante agredida neste sentido porque eu estou como colaboradora eventual de várias ações de uma relação direta com a situação clínica dos nossos pacientes e eu gostaria de ter, portanto, senador, a necessária avaliação dessa posição”, afirmou.
À CPI da Covid-19, Nise Yamaguchi negou a existência do suposto gabinete paralelo ao Ministério da Saúde. Há pouco, porém, admitiu que foi formado um “comitê científico independente”, formado por “um grupo de médicos” que não tinham “vínculos oficiais” com a pasta. “A gente não queria ter vínculos oficiais com o Ministério da Saúde”, disse.