Josias de Souza
A nova pesquisa do Datafolha consolida a liderança de Jair Bolsonaro (26%), confirma o derretimento de Marina Silva (8%) e sinaliza uma ascensão fulminante de Fernando Haddad (13%). Nessa configuração, Bolsonaro bloqueia uma vaga no segundo turno. E a disputa pela segunda vaga restringe-se agora a três candidatos: Haddad, Ciro Gomes (13%) e Geraldo Alckmin (9%).
O atentado contra a vida de Bolsonaro não produziu uma reviravolta. Apenas 2% do eleitorado disse ter mudadado de voto em função da facada. Mas a tentativa de homicídio como que calcificou os votos do esfaqueado. Hoje, 75% dos eleitores de Bolsonaro afirmam que não lhes passa pela cabeça a ideia de virar a casaca, trocando de candidato. Daí a percepção de que o paciente do Hospital Albert Einstein move-se em direção ao segundo turno sem sair da UTI.
Outro personagem que movimenta a grade de candidatos sem sair do lugar é Lula. Mais uma vez, o presidiário de Curitiba revela um notável poder de transferência de eleitores. No final de agosto, Haddad somava 4% das intenções de voto. Na última segunda-feira, véspera do anúncio de sua conversão em substituto de Lula, ele já amealhava 9%. Decorridas apenas 72 horas, bateu em 13%, deixando Alckmin para trás e empatando numericamente com Ciro.
Mantido o ritmo atual, Haddad seria o candidato favorito a disputar o segundo turno com Bolsonaro. Mas será necessário observar nos próximos dias os efeitos de uma inevitável alteração na tática de campanha de Ciro e Alckmin. A dupla vinha concentrando o grosso de sua artilharia em Bolsonaro. Agora, ambos levarão Haddad à alça de mira. Pregarão o voto útil, apresentado-se como melhores alternativas para evitar a chegada do capitão ao Planalto. Ciro aparece mais bem-posto no segundo round.
Para se manter no jogo, Ciro e Alckmin terão de guerrear entre si e, simultaneamente, tentar deter a polarização entre Bolsonaro e Haddad, claramente esboçada na pesquisa. Não será uma tarefa fácil, pois Haddad tem baixa rejeição e não atraiu ainda nem a totalidade dos eleitores tradicionais do PT. De resto, o potencial de transfusão de votos de Lula está longe de ser esgotado.