Maior reservatório de água do Nordeste, o Lago de Sobradinho volta a ter seu melhor volume de água, desde o início da seca em 2012, atingindo um nível de 22,7%. As chuvas que caíram em Minas Gerais tiraram a barragem de uma situação de colapso e voltaram a trazer esperança à região do São Francisco. Em novembro do ano passado, Sobradinho quase agonizou, alcançando seu estágio mais crítico em 5 anos, com volume de 1,08%. Um ano depois, o reservatório volta a ganhar vida. Com a melhora nos volumes, a expectativa é que a Agência Nacional de Águas (ANA) autorize o aumento da saída de água do reservatório e beneficie os usuários, a geração de energia hidrelétrica e a produção agrícola. Desde o começo da estiagem, a vazão foi sendo reduzida ano a ano e chegou ao menor patamar da história em 2017, quando ficou em 550 metros cúbicos por segundo (antes da seca era de 1,3 mil m³/s). Como o período chuvoso na região se estende até maio de 2019, a previsão é de que os níveis do reservatório ainda avancem. Um verdadeiro presente para Sobradinho, que completa 40 anos de inauguração no próximo ano.
Entre os usuários, a expectativa é de que a ANA libere a vazão do reservatório para algo entre 800 m³ e 900 m³ por segundo a partir do início de 2019. “Hoje estamos autorizados a utilizar a vazão mínima de 550 m³/s, mas com a melhoria já se pode chegar a 700 m³/s. Se a vazão mínima autorizada chegar a 900 m³/s, a geração de energia poderá ter um incremento de 900 MW”, calcula o diretor de Operação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin. Isso significa um crescimento de 30% em relação à produção atual de 3.000 MW. O engenheiro destaca que, desde o início da estiagem, a participação da geração hidrelétrica caiu de 60% para 30% da matriz energética do Nordeste. A companhia tem capacidade instalada para gerar 10,6 mil MW, mas hoje só produz um terço do potencial.
O aumento da geração de energia de fonte hidrelétrica também pode significar alívio no valor da conta de luz para o consumidor, com mudança na bandeira tarifária. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já anunciou que a bandeira tarifária para novembro é amarela, com custo de R$ 1 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos. Isso representa uma redução na cobrança em relação aos cinco meses anteriores, quando foi acionado o patamar 2 da bandeira vermelha, que prevê cobrança de R$ 5 a cada 100 kWh.
A tendência de melhora da bandeira tarifária também ganha força com o aumento do nível de água nos reservatórios não só do Nordeste, mas do restante do País. Nas suas simulações, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já previa um aumento no acúmulo de água.
“As últimas simulações do ONS indicavam que os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste chegariam ao fim de novembro entre 18% e 20%. Hoje, eles estão em 23,50% e devem terminar o mês nesse patamar. O volume é maior que o do ano passado, de 18,5%. Para o Nordeste, a previsão era chegar ao final de novembro com 21% da capacidade máxima (na última terça-feira esse volume já tinha chegado a 28,67% nos reservatórios das usinas de Sobradinho, Três Marias e Itaparica). Ao contrário dos anos anteriores, em que houve um atraso do período chuvoso, este ano já está caracterizada uma situação de normalidade. Estamos na transição do período seco para o período úmido e as chuvas têm ajudado bastante nesse fim de ano. A previsão para o mês de novembro, de acordo com o Programa Mensal da Operação, é de uma quantidade efetiva de água que chega aos reservatórios de 129% acima da média histórica”, compara o ONS.