Carlos Chagas
Interlocutores recentes tem flagrado o Lula em comentários pessimistas, como o de que não será candidato a um terceiro mandato, em 2018. Razões existem, como a de que, se eleito, assumiria com 73 anos, ainda mais para enfrentar monumentais dificuldades econômicas e políticas fatalmente herdadas de Dilma. Aliás, do jeito que as coisas vão, o próprio ex-presidente admite poder ser derrotado, hipótese desconsiderada até alguns meses atrás. Com o PT posto em frangalhos, necessitaria o primeiro companheiro compensar a fraqueza dos outros com uma performance eleitoral digna de seus melhores anos de sindicalista. Teria disposição e saúde para tanto? E depois, como enfrentaria as delicadas questões que apenas se avolumam?
Política é como as nuvens, já dizia o saudoso Magalhães Pinto: a gente olha, estão formando um elefante, para minutos depois parecerem um navio. É claro que o quadro poderá mudar, até mesmo o atual governo recuperar-se e o segundo mandato da sucessora dar certo, mas as recentes referências do Lula não conduzem a esse resultado.
Sendo assim, isto é, admitindo-se a possibilidade de o PT buscar outro candidato, novas perguntas se colocam: quem, hoje, desponta como favorito? A estrela de Aloísio Mercadante ameaçou brilhar, mas ofuscou-se por obra e graça do próprio Lula. Jacques Wagner perde-se no ministério da Defesa e aos demais petistas palacianos, hoje, falta fôlego. A safra dos governadores do partido deixa a desejar, nem Fernando Pimentel, de Minas, consegue emplacar.
Teriam os companheiros a humildade de aceitar uma opção fora de seus quadros? No PMDB, Michel Temer surge como fiel aliado, ao contrário de Eduardo Cunha, quase um adversário, mas que outro nome haverá a considerar? Fora do PMDB, então, pior ainda. Não há presidenciáveis nas legendas de apoio ao palácio do Planalto. Voltar-se o governo para as oposições, nem que a vaca tussa.
Por falar nelas, as oposições, precisarão meditar muito entre Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. A pole-position está com o senador mineiro, ainda que os paulistas devam reivindicar a vez. Faltou citar Marina Silva, mas é preciso, antes, que o seu novo partido deslanche.
Em conclusão, salta aos olhos que se for mesmo para valer a disposição de o Lula não concorrer, estará embolado o meio campo sucessório. Quem sabe diante disso não ressurja a proposta do parlamentarismo?