Uma parte de uma ferrovia concluída entre Salgueiro, Terra Nova e Araripina, onde Papai Lula fez o lançamento da obra em 2006.
Do JC Online / Foto: Reprodução
Dez anos depois do início das obras da Ferrovia Transnordestina, o pouco que foi construído está abandonado. Era “o sonho” de uma ligação férrea entre o litoral e o Sertão. É mais um capítulo de desesperança em três estados: Pernambuco, Ceará e Piauí. Pelo caminho, ficaram cemitérios de trilhos, uma parte de uma ferrovia concluída na qual passam motos e jumentos, mais de 80 vagões abandonados (em Missão Velha, Salgueiro e Terra Nova), uma fábrica de dormentes desativada, trilhos fixados no barro, entre outros símbolos do descaso.
Com uma extensão de 1752 quilômetros, a Transnordestina deveria ligar a cidade de Eliseu Martins (no Piauí) e aos portos de Pecém, próximo a Fortaleza, e ao de Suape, litoral pernambucano. Desse total, cerca de 600 km saíram do papel. A reportagem encontrou trechos finalizados em Parnamirim (extremo oeste de Pernambuco), em Paulistana (no Piauí) e entre Salgueiro e Missão Velha, essa última cidade no Ceará. O trecho que vem de Salgueiro acaba justamente em Missão Velha, onde o trilho está fixado no barro, exatamente no local em que o então presidente Lula (PT) fez o lançamento da obra em 2006.
“Quem já trabalhou em ferrovia sabe que primeiro faz a terraplenagem para nivelar. Depois, coloca os dormentes, a brita e os trilhos que são o acabamento final. Vão ter que fazer tudo de novo, inclusive porque os trilhos também estão empenados”, conta o ex-soldador e auxiliar mecânico, Francisco Figueiredo dos Santos, se referindo ao trecho Missão Velha-Pecém. Desde 2012, Francisco trabalhou em várias empresas que construíram a Transnordestina e agora está desempregado. “O serviço aqui (em Missão Velha) acabou em setembro do ano passado. Tá tudo parado”, diz.
A situação é a mesma em Paulistana e Simões, os dois primeiros municípios do Piauí cortados pela Transnordestina. “A ferrovia atravessou a minha roça. Pedi para o pessoal da firma fazer uma barraginha (para armazenar água) no lado em que ficaram os animais, mas não ligaram. Agora, se um dia passar o trem, os meus bichinhos vão morrer de sede, enquanto ele tiver passando”, conta o lavrador João José de Carvalho, que teve a sua propriedade cortada pelo empreendimento e até hoje não recebeu qualquer centavo de indenização.
O trecho ferroviário implantado tem 600 km e custou R$ 6,2 bilhões. Não há data prevista para a conclusão das obras e ,oficialmente, os órgãos do governo dizem que há obras nos trechos Missão Velha-Piquet Carneiro, ambas as cidades no Ceará. Lá as obras estão paralisadas e foram demitidas 2 mil pessoas em abril último. O orçamento inicial da obra era de R$ 4,5 bilhões e o empreendimento deve alcançar um total de R$ 11,2 bilhões, valor 250% maior do que o anunciado em 2006.