
Por Estadão
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo para apurar possíveis irregularidades na nomeação de três ministros de Lula da Silva para cargos em conselho de uma empresa privada. Isso porque os titulares dos Ministérios da Previdência, Carlos Lupi, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, assumiram, por indicação do BNDES, postos no Conselho de Administração da Tupy, uma metalúrgica multinacional, sem a prévia autorização da Comissão de Ética Pública, como exige a Lei de Conflito de Interesses.
Lula e seus correligionários vendem a si mesmos como campeões da ética e defensores do Estado, mas há muito a maioria dos brasileiros não compra essa fantasia por seu valor de face e sabe o que se esconde sob a retórica virtuosa do “desenvolvimentismo”: o desenvolvimento dos interesses do PT.
A captura dos interesses públicos a serviço de ambições privadas é bem evidente no aparelhamento da máquina pública. Muito antes do PT, é verdade, ela já fora moldada pelas elites políticas para saciar apetites patrimonialistas. Só no governo federal são quase 30 mil cargos e funções preenchidos por nomeação. Mas o lulopetismo atingiu o estado da arte da contaminação político-partidária da máquina estatal.
Por onde quer que passe, o PT manobra para inchar e abastardar o Estado, preenchendo-o com companheiros e submetendo-o aos seus desígnios. Não é nenhum paradoxo incompreensível, mas uma mera consequência lógica desse modus operandi, que o PT, tão obcecado por regulações estatais sobre o mercado, tenha horror justamente a regulamentos que impõem ao próprio Estado parâmetros de boa governança, como a Lei das Estatais ou das Agências Reguladoras.
Quando o PT aparelha empresas privadas nas quais o Estado tem participação, imagina-se que o objetivo seja tentar submeter essas empresas ao projeto político do lulopetismo. No entanto, considerando o total despreparo técnico dos indicados, conclui-se que o propósito real é mais trivial: recompensar a companheirada com cargos e salários generosos.
O BNDES, por exemplo, tem asseguradas cerca de 30 indicações em conselhos administrativos de mais de 20 empresas nas quais tem participação. Se o objetivo do governo fosse submeter a gestão dessas empresas a fins políticos, nomearia ao menos gente que é do ramo. Não foi o caso quando indicou, por exemplo, o então ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, para o conselho de uma empresa de gás e eletricidade ou a então ministra da Saúde, Nísia Trindade, para o de uma empresa de transformação digital.
No caso da Tupy, até agosto de 2023 o BNDES era representado por dois conselheiros de seus próprios quadros com experiência em energia e gestão empresarial, o que era condizente com a política de indicações do banco, que visa a “estimular a adoção de melhores práticas de gestão, governança e sustentabilidade pelas companhias investidas e, assim, promover a geração de valor para tais empresas”. Mas o governo entendeu que seria muito mais condizente substituí-los por Carlos Lupi e Anielle Franco.
A indicação de Lupi, licenciado da presidência do PDT, violou a própria política interna do banco de não nomear dirigentes partidários. Se entregar o comando de um ministério a Anielle – cuja credencial mais vistosa até então era ser irmã de Marielle Franco – já era questionável, que dirá sua nomeação ao conselho de uma multinacional de ferro fundido?
Se os indicados do governo “geraram valor” ou não para a Tupy, cabe aos acionistas dizer – na época das indicações, as ações chegaram a cair 3% –, mas é certo que a Tupy gerou valor real para os indicados: mais de R$ 40 mil por mês, em média, um polpudo complemento de renda ao seu salário de R$ 44 mil.
Essa lógica se aplica a toda a máquina petista de fabricar cabides e sinecuras. Para os seus apaniguados, ela gera muitos dividendos. Do ponto de vista do País, a única coisa que gera é o descrédito em suas instituições e a desconfiança dos investidores.