
Governo Lula pode alimentar inflação ao combater desaceleração
O país iniciou 2025 com a perspectiva de desaceleração da economia, mas a extensão da piora do ambiente ainda permanece envolta em incertezas ante forças contrárias.
Os juros elevados para combater a inflação, que em boa parte deriva do excesso de gastos públicos, contraem consumo e investimentos, enquanto o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta limitar o dano com novas medidas de estímulo —caso da modalidade de crédito consignado que deve ampliar empréstimos a trabalhadores.
No momento, é visível uma piora na percepção das empresas não financeiras sobre o estado da economia. A pesquisa Firmus, realizada pelo Banco Central entre 10 e 28 de fevereiro com 156 companhias, aponta uma redução no otimismo quanto ao desempenho relativo do setor em relação à atividade em geral e uma piora nas expectativas para a lucratividade nos próximos 12 meses.
Metade delas avaliava a situação atual como “discretamente negativa”, uma alta ante os 36,8% das 136 ouvidas na edição anterior, publicada em novembro. A parcela que apontou o quadro “fortemente negativo” passou de 5,1% para 16,7% no período.
Quanto aos custos de mão de obra e insumos, 80% esperam subida maior que 4% neste ano. Já a projeção mediana para o IPCA em 2025 saltou de 4,2% para 5,5%, bem acima da meta de 3% perseguida pelo BC, enquanto a estimativa para o crescimento do PIB permaneceu em 2%.
Outros indicadores também sinalizam perda de ritmo, caso da confiança do varejo e do consumidor. De outro lado, há boas perspectivas para a agricultura, que deve crescer acima de 5%, e para a industria extrativa. O mercado de trabalho também é um contraponto, com sólida criação de empregos por meio de carteira assinada e crescimento da massa de rendimentos até agora.
A Selic fixada em 14,25% tem sido a principal arma —ou a única— para conter a inflação, que, segundo o Relatório de Política Monetária do BC, segue persistentemente elevada, com projeção de 5,1% para 2025, sem convergência para a meta antes do segundo trimestre de 2027.
Uma desaceleração é necessária para domar os preços, e o governo correrá riscos maiores se tentar compensar a ação do BC com medidas de estímulo. A ampliação do crédito consignado e a liberação de saques do FGTS figuram como iniciativas para injetar liquidez na economia e sustentar o consumo das famílias. Pior será se houver novas medidas que ampliem gastos públicos.
Pisar no freio e no acelerador ao mesmo tempo nunca foi boa estratégia. Se o Executivo não tiver paciência para que a política monetária cumpra seu papel, colherá um cenário de juros e inflação elevados por mais tempo.
Isso tende a sufocar setores dependentes de crédito, como construção civil e indústria, enquanto o cenário global —de crescimento moderado e incertezas geopolíticas— não oferece alento.