Por Sergio Denicoli* / Estadão
A fundação tem como objetivo captar recursos da iniciativa privada para apoiar as atividades do Instituto. No entanto, essa iniciativa gerou preocupações entre servidores, que temem que o financiamento privado possa comprometer a autonomia e a credibilidade da instituição. Eles, inclusive, passaram a chamar a fundação de IBGE paralelo e acusar o presidente de tomar autoritárias, que poderiam comprometer a credibilidade do instituto.
Pochmann chegou a ser alvo de uma carta dos servidores do IBGE, que expressaram preocupações com a falta de planejamento e diálogo, mediante medidas que consideram autoritárias.
Houve ainda pedidos de demissões de diretores, insatisfeitos com a forma de gestão do presidente. Essa situação tem sido explorada pela oposição, que não perdeu tempo em usar o episódio para buscar corroer, mais uma vez, a credibilidade do governo.
A narrativa mais recente das redes tem colocado em questão os dados do IPCA – o principal indicador de inflação no Brasil, que monitora o aumento ou a queda do custo de vida no País.
Como a inflação dos alimentos tem se tornado uma pedra no caminho do governo que vislumbra permanecer no poder, os dados do IBGE passaram a ser alvo de ampla contestação.
Enquanto isso, seguindo o mesmo modelo que vigorou durante a recente crise do Pix, o governo segue inerte, esperando talvez um novo vídeo da oposição para tomar uma atitude, depois que a crise escalar.
A inércia, na política feita na era das redes, custa muito caro e causa danos que podem ser irreversíveis. Se o governo perder de vez a capacidade de dar esperança às pessoas, pode começar a se preparar para passar o bastão para seus opositores.
*Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense.