O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem contado com a ajuda do noticiário e das redes sociais para postergar o anúncio do corte de gastos, necessário para equilibrar o orçamento de 2025 e dos anos seguintes.
Mesmo antes das explosões em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira (13), a repercussão da proposta de emenda à Constituição (PEC) para reduzir a jornada de trabalho 6×1 já havia contribuído para desviar a atenção do assunto.
“Muita coisa contribuiu para o corte de gastos sair de foco”, afirma o cientista político João Lucas Moreira Pires. “A eleição presidencial nos Estados Unidos, a COP29 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, no Azerbaijão], a jornada 6×1 e até a explosão no STF. O assunto dos cortes acabou ficando em segundo plano.”
Assim, o governo tem conseguido ganhar tempo para administrar a “batata quente” que tem em mãos. O assunto enfrentou resistências das pastas afetadas, das hostes petistas e do próprio presidente, que precisou ser convencido da urgência do ajuste.
“O governo está com uma imensa dificuldade para definir essa revisão dos gastos”, afirma Sérgio Praça, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV Cpdoc). “A explosão do STF e a jornada 6×1 jogam a favor, sim, porque tiram a atenção.”
Haddad: sem “tempo hábil” para anúncio do corte de gastos
Há mais de duas semanas se espera que o governo bata o martelo sobre as medidas para dar credibilidade ao arcabouço fiscal. Na última quarta, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse que o pacote está pronto, mas que não há previsão de data de divulgação.