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Governo do PT em MG, autorizou obras que colocavam barragem de Brumadinho em risco

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Mineradora obteve licença em dezembro, no governo de Fernando Pimentel (PT) para fazer explosões e usar equipamento pesado no complexo onde ocorreu tragédia. Em julho, laudo de segurança dizia que tais atividades poderiam causar liquefação da barragem que se rompeu.

Por Paula Paiva Paulo, G1, em São Paulo

 — Foto: Alexandre Mauro/G1

— Foto: Alexandre Mauro/G1

Pouco mais de um mês antes da tragédia provocada pelo rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, a Vale obteve autorização do governo de Minas Gerais para um projeto de expansão das minas do Córrego do Feijão, onde ocorreu o desastre, e de Jangada. Ambas fazem parte do Complexo Paraopeba.

No entanto, as obras previstas contrariavam algumas recomendações de segurança do relatório da consultora Tüv Süd, segundo engenheiros ouvidos pelo G1. Elaborado em julho de 2018 a pedido da própria Vale, o laudo da companhia alemã atestou a estabilidade da estrutura, mas detectou problemas no sistema de drenagem e fez ressalvas – a estabilidade do alteamento estava no limite de segurança das normas brasileiras.

O estudo recomendou à mineradora ações que aumentassem a segurança e evitassem a liquefação, fenômeno verificado quando um material rígido passa a se comportar como fluido e uma das possíveis causas do rompimento da barragem em Brumadinho, que deixou 157 mortos e 182 desaparecidos.

O documento da consultoria recomendou:

  • proibir explosões nas redondezas da mina;
  • evitar o tráfego de veículos e equipamentos pesados;
  • impedir a elevação do nível da água na estrutura.

o licenciamento para expansão das minas aprovado em 11 de dezembro pela Secretaria do Meio Ambiente (Semad) de Minas Gerais previa:

  • uso de explosivos;
  • retroescavadeiras para remoção mecânica de rejeitos;
  • caminhões de grande porte para transportar materiais.

Procurada pelo G1, a Vale não informou se já havia iniciado as obras, mas confirmou que realizou detonações nas minas de Jangada e Feijão, sem dizer até quando elas foram feitas.

As intervenções aumentariam a capacidade produtiva em quase 70%, passando dos atuais 10,6 milhões de toneladas de minério de ferro por ano para 17 milhões. Com isso, “a vida útil do empreendimento seria prolongada até 2032”, diz o parecer da Semad sobre o processo de licenciamento.

A secretaria informou que a Vale apenas entregou a declaração de estabilidade da estrutura, sem mencionar qualquer fator de risco.

Professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, o engenheiro Carlos Martinez afirmou que as obras previstas na expansão das minas afetariam a segurança da barragem. “É uma aprovação que colocava a barragem em risco, e a Semad deu. Os técnicos não deveriam ter dado, e a Vale não deveria ter pedido”, disse em entrevista ao G1.

Fazia parte do programa de aumento da produção o reaproveitamento de rejeitos de duas barragens da mina do Córrego do Feijão: a Barragem I, que se rompeu em 25 de janeiro, e a VI. O objetivo era recuperar os finos de minério de ferro para produzir o pellet feed fines (PFF), usado na fabricação das pelotas (pequenas bolinhas de minério de ferro aplicadas na fabricação do aço).

Para isso, estava prevista a remoção mecânica por retroescavadeira na Barragem I, seguida por empilhamento e transporte. O projeto também cita explosões no Complexo Paraopeba. “Estão previstos desmontes por explosivos na mina de Jangada e o carregamento e transporte do minério e estéril por máquinas e equipamentos que podem gerar impactos de acústica e vibração”, diz o parecer da Semad (veja outros impactos abaixo).

Professor de engenharia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio e ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), Alberto Sayão concorda que detonações em áreas vizinhas das minas, assim como movimentações de caminhões, poderiam funcionar como gatilho para a liquefação.

“Num ambiente de mina de ferro, os caminhões são muito grandes, muito pesados. E, quando estão carregados com as pedras que são tiradas da mina, ele [o terreno] vibra, por isso que eles [autores do relatório] pediram para evitar”, explica Sayão. “São caminhões enormes, que fazem uma trepidação similar a um sismo de baixa magnitude.”

Uma troca de e-mails entre profissionais da Vale, da Tüv Süd e da Tec Wise, outra empresa contratada, revelou que a mineradora soube de problemas em sensores de Brumadinho dois dias antes do rompimento da barragem.

As mensagens foram identificadas pela Polícia Federal (PF), que colheu depoimentos de dois engenheiros da consultora alemã que eram responsáveis pelos laudos. Presos em 29 de janeiro, André Yassuda e Makoto Mamba deixaram o presídio nesta quinta-feira (7).

Peritos e especialistas que se juntaram à força-tarefa de investigação do caso vão fazer estudos para saber se as explosões em minas vizinhas teriam ou não contribuído para a liquefação da barragem B1.

O que dizem especialistas

Carlos Martinez, da Unifei, se diz “chocado” com as análises feitas no relatório da Tüv Süd. Ele disse que o local deveria ter sido evacuado: “Eles tinham que ter tirado todo o pessoal. Eles foram muito arrogantes tecnologicamente”.

O professor Edilson Pizzato, do Instituto de Geociência (IGc) da Universidade de São Paulo (USP), analisou o relatório da Tüv Süd e disse que a metodologia é conhecida e utilizada mundialmente. Ele explicou que foi feita uma série de cálculos e testes com base nos indicadores aferidos naquele momento. No caso de qualquer intervenção, deveriam ter sido feitos novos estudos.

“Se fossem fazer uma detonação – ou obras que fossem ser realizadas – próximo dali, segundo o próprio relatório, isso poderia alterar aquelas condições que foram estudadas. Poderiam alterar essas condições e eventualmente deflagrar o processo [de liquefação]”, afirmou Pizzato.

“Com esse relatório [da consultoria alemã], seria muito preocupante executar justamente esse tipo de obra que ele [o projeto de expansão] está citando e que pode causar a ruptura. O relatório fala que está no limite e que precisariam executar estudos melhores.”

Parecer favorável da Secretaria do Meio Ambiente

Com data de 20 de novembro, um parecer da Superintendência de Projetos Prioritários (SUPPRI) – atrelada à Semad – recomenda a autorização da licença.

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