Por Fernando Castilho – da coluna JC Negócios
Em meio a um caos que a cada dia eleva o número de mortos acima dos 2 mil óbitos/dias, governadores aflitos se apegam a possibilidade de compra de quase 40 milhões da vacina russa Sputnik V, cujo representante no Brasil promete entregar 10 milhões de unidades em poucas semanas.
Pode ser. Mas o que torna esse desejo uma possibilidade distante é o fato de que, apesar de já ter sido aprovada, segundo seus fabricantes, em 26 países, não há entre eles nenhuma grande agência reconhecidamente importante, o que faz com que, salvo uma mudança de posição radical, a Anvisa não conceda autorização do uso no Brasil.
O problema é que, hoje, a única vacina que se pode comprar com expectativa de entrega rápida é a Sputnik V. Desenvolvido pelo Instituto Gamaleya de Moscou, a vacina russa é propriedade do Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF),
Na manhã de hoje, quando se especulou que a Anvisa poderia anunciar a autorização da vacina, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, esfriou o assunto dizendo que “apesar de o órgão regulador não ter recebido respostas às exigências sobre a vacina, a agência disse que segue aberta para discussão com a empresa responsável, a União Química, para a avaliação de uso do imunizante”.
Segundo Mendes, “as informações exigidas para o uso emergencial da vacina russa ainda não foram respondidas”. De acordo com o gerente da Anvisa, a reguladora e a União Química estão conversando para que haja a divulgação dos requisitos exigidos. “A expectativa é que os próximos passos sejam tomados pela empresa”, armou.
É uma forma educada de dizer que não existe conversa. Porque, efetivamente, a Anvisa não tem com que trabalhar para autorizar a vacina Sputnik V, a despeito da expectativa dos governadores.
Nesta quinta-feira, o governador da Bahia, Rui Costa, disse que o Ministério da Saúde também está na luta para comprar as 39 milhões de doses da vacina Sputnik V.
Os nordestinos, liderados pela Bahia, já haviam negociado diretamente com o Fundo russo a compra de um percentual de imunizantes para atender toda a Região, sob condição de cedê-lo ao Governo Federal para dar sequência ao Plano Nacional de Imunização (PNI).
O problema da parceira do RDIF é que a União Química não muito o que fazer para apressar isso. Ela é uma representante do fundo.
Tem a promessa de fabricar a vacina em breve, mas até agora o que conseguiu foi que os técnicos da Anvisa visitassem suas instalações onde poderá envasar a vacina se receber o IFA. Mas essa visita só aconteceu esta semana e a Anvisa não deu nenhum parecer.
Mas, efetivamente, a única informação que a Anvisa tem sobre a vacina é a de que o FDIF iniciou uma revisão contínua da vacina russa “Sputnik V” contra o coronavírus pelo Comitê de Medicamentos para Uso Médico da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Existe uma informação que a agência da Inglaterra, a MHRA [sigla inglesa da Agência Reguladora de Saúde e Produtos Médicos] do Reino Unido, também está analisando a documentação da vacina.
Enquanto isso, o governo federal não ajuda. Não há, por exemplo, nenhuma ação do presidente Jair Bolsonaro com a embaixada russa para tentar um compromisso de enviar um lote grande da vacina. Na verdade, não há nenhum contato.
O drama dos governadores é compreensível. Todos estão vendo seus hospitais explodirem em número de internados, enquanto ainda brigam por coisas básicas com o Ministério da Saúde, como o pagamento de leito de UTI. Um contrato, um compromisso de entrega e alguma notícia mais consistente daria aos governadores alguma esperança.
Mas a verdade é que, enquanto a Sputnik V não for aprovada por nenhuma das 8 maiores agências reconhecidas pela Anvisa, fica muito difícil a Anvisa até cumprir a lei de aprovação recentemente aprovada no Congresso de dar a autorização do imunizante. Salvo se tiver que se juntar às agências de países como Montenegro e São Vicente, Granadinas, Venezuela, Paraguai e Turcomenistão. Enquanto isso, Brasil conta mortos que devem chegar a 300 mil ainda este mês