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Gleisi, Dino e Felipe Neto incitam onda de ataques contra jornalista

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Foto: reprodução

Por Folha de São Paulo

Apoiadores do governo Lula compartilharam neste domingo (19) uma série de ataques nas redes sociais contra a jornalista Andreza Matais, de O Estado de S. Paulo. Foi o jornal que revelou na semana passada a visita ao Ministério da Justiça da mulher de um líder da facção criminosa Comando Vermelho.

A onda de ofensas à jornalista começou a partir de texto publicado no site Revista Fórum segundo o qual colaboradores de O Estado de S. Paulo teriam feito uma denúncia contra ela no Ministério Público do Trabalho relatando suposta pressão para ligar em reportagem o ministro da Justiça, Flávio Dino, à mulher de um chefe do tráfico de drogas.

O texto da Fórum, site simpático ao governo petista, não mencionava nomes dos supostos denunciantes nem provas, apenas prints com o relato da suposta acusação. A jornalista afirma que se trata de uma denúncia falsa e que o departamento jurídico do jornal foi acionado.

Em reportagem sobre os ataques, o diretor-executivo de jornalismo do Grupo Estado, Eurípedes Alcântara, disse que “a reação furiosa orquestrada nas redes sociais contra jornalistas do Estadão em nada diminui a qualidade da apuração da reportagem sobre as intimidades da dama do tráfico com altos funcionários públicos”.

“Ela [onda de ataques] mostra apenas a incapacidade de certos setores de conviver com o jornalismo independente”, completou Eurípedes.

No sábado (18), a partir da publicação do texto da Fórum se disseminaram nas redes ataques contra Andreza, que é editora de política e diretora da sucursal do jornal em Brasília.

Neste domingo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, escreveu post endossando o texto da Revista Fórum e dizendo se tratar de uma “gravíssima denúncia”, mesmo diante da ausência de detalhes da suposta acusação contra Andreza.

Gleisi também fez menção à rádio Eldorado, do mesmo grupo que publica o jornal, ao dizer que “o conteúdo mentiroso contra o ministro foi turbinado e divulgado também pela rádio” e que “é escandaloso o uso de uma concessão pública para difamar o governo”.

Dino, na disputa para ser indicado a uma vaga de ministro do STF, fez postagem sem citar a jornalista, mas também em tom de endosso às supostas acusações. Disse que leu reportagem “desmontando as vis difamações contra mim engendradas”, ainda que não se saiba de que forma teria ocorrido a suposta pressão contra os jornalistas. “O mal por si só se destrói”, acrescentou ele.

Outros apoiadores de Lula que compartilharam o material foram os deputados federais Ivan Valente (PSOL-SP), Nilto Tatto (PT-SP) e Rubens Pereira Jr (PT-MA), entre outros.

O influenciador Felipe Neto, que tem milhões de seguidores em diferentes plataformas, ofendeu a jornalista afirmando que ela era a “dama das fake news”, expressão que apoiadores de Lula já tinham passado a espalhar pelo X (antigo Twitter).

Depois, a postagem —com uma foto da jornalista— foi apagada. A assessoria dele foi questionada, mas não respondeu.

Nesta segunda (20), porém, Felipe Neto voltou às redes desta vez para pedir desculpas à jornalista.

“Peço a todos q me seguem q entendam q isso é um erro e não passem pano pra mim. Se é para criticar, que o foco seja o veículo, não o jornalista, mesmo que a gente acredite ter todos os motivos para isso.”

À Folha Andreza disse que todo um “ódio foi disseminado a partir de um print de um formulário de denúncia preenchido com informações falsas”.

“Para agravar, trata-se de um ataque que, mesmo anônimo, virou matéria. Não é a primeira vez que uma mulher jornalista é alvo de uma rede antidemocrática —Patrícia Campos Mello, desta Folha, enfrentou esse drama. Infelizmente, pode não ser a última. A denúncia é improcedente e a direção do jornal já encaminhou para o jurídico.”

Ela também afirmou que as reportagens produzidas sobre o Ministério da Justiça não tinham erros de apuração.

Procurado, Dino não quis falar sobre o teor de suas declarações. Gleisi também não respondeu.

O ministro se desgastou na última semana com a revelação de que Luciane Farias, condenada por associação para o tráfico no Amazonas, esteve em reuniões no Ministério da Justiça em março e maio.

Na sequência, veio à tona que o Ministério dos Direitos Humanos, chefiado por Sílvio Almeida, pagou passagem de Luciane para evento em Brasília neste mês. Ela é esposa de um chefe do Comando Vermelho conhecido como “Tio Patinhas” e preside uma associação relacionada ao combate à tortura.

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) manifestou em nota repúdio às “tentativas de intimidação contra o jornal e sua editora” e afirmou que isso não condiz com valores democráticos e “demonstra um flagrante desrespeito à liberdade de imprensa”.

“Evidencia uma prática característica de regimes autocráticos de, com o apoio de dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas, tentar desviar o foco de reportagens incômodas por meio de ataques contra quem as apura e divulga.”

A reportagem procurou entidades de imprensa, como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, mas não houve manifestação sobre os ataques à jornalista até a publicação deste texto.

Outras instituições, como a Comissão Arns, não se pronunciaram. Também procurado, o grupo de advogados Prerrogativas, por meio de seu coordenador Marco Aurélio de Carvalho, manifestou solidariedade a Dino e defendeu o direito de defesa da jornalista.

Perfis de simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do MBL (Movimento Brasil Livre) cobraram solidariedade com a jornalista alvo de hostilidades. Durante o governo anterior, eram frequentes manifestações em defesa de profissionais de imprensa xingados e ameaçados por bolsonaristas.

O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, foi um dos que se solidarizaram com Andreza, afirmando que ela foi alvo de “ataques nefastos que devem ser condenados por todos que defendem a liberdade de imprensa e a democracia”.

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