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Floresta-PE: Relembre o Escândalo da Mandioca

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Foto: reprodução

Da coluna de João Alberto

O Escândalo da Mandioca foi um grande crime financeiro ocorrido entre 1979 e 1981 na agência do Banco do Brasil de Floresta, resultando no desvio de 1,5 bilhão de cruzeiros, a moeda da época, do Proagro – programa de incentivo agrícola criado pelo governo federal em 1973. O golpe consistiu na obtenção de documentos falsos para conseguir créditos agrícolas para o plantio de feijão, cebola, melão, melancia e, principalmente, mandioca, utilizando cadastros frios, propriedades fictícias e agricultores fantasmas.

Teve 26 envolvidos, entre eles o então gerente da agência do Banco do Brasil, Edmílson Soares Lins, e vários funcionários do Banco do Brasil, pequenos e grandes agricultores, comerciantes e políticos de Floresta. O caso ganhou destaque em todo o país. O inquérito foi distribuído ao procurador federal Pedro Jorge de Melo e Silva, que, ofereceu denúncia contra 25 dos indiciados, que tiveram os bens sequestrados.

Depois o procurador passou a receber ameaças de morte, mas seguiu com seu trabalho, segundo relato do confidente e amigo de seminário, Dom Basílio Penido. Ex-noviço beneditino, continuava ligado aos religiosos do Mosteiro de São Bento de Olinda. Apesar da sua conduta ser atestada pelos que o conheciam, ele foi afastado do inquérito pelo procurador-geral da República Inocêncio Mártires Coelho, num fato que gerou muitos protestos, inclusive  um pedido do seu impeachment feito pelo senador Humberto Lucena.

Como era seu costume, no início da noite do dia seguinte, 4 de março de 1982, Pedro Jorge parou na Padaria Pan Já, em Jardim Atlântico, Olinda, para comprar pão. Ao sair foi atingido por três tiros disparados pelo motorista Elias Nunes Nogueira, que confessou ter agido a mando do major José Ferreira dos Santos, de quem receberia 200 mil cruzeiros. Deixou a viúva, Maria das Graças Viegas e Silva, e duas filhas ainda crianças, Roberta e Marisa.

O arcebispo Dom Fernando Saburido, que era o administrador do Mosteiro de São Bento, relembra que naquele dia Pedro Jorge o procurou, pouco antes da sua morte. Ao saber do crime, o abade dom Basílio Penido chamou-o para ir até o local. Aos amigos, Pedro Jorge costumava dizer que caso fosse morto, isso aconteceria no cumprimento do seu dever. “Não posso deixar passar essas arbitrariedades contra o Poder Púbico. Alguém tem de denunciar e, no caso, esse alguém sou eu”.

O julgamento dos réus só aconteceu 18 anos depois, entre os dias 7 e 12 de outubro de 1983, no Tribunal Regional Federal. A demora foi justificada pela dúvida sobre a competência do foro: se ocorreria na primeira ou segunda instância da Justiça Federal. O juiz Genival Matias, da 1ª Vara Federal, indiciou o major José Ferreira dos Anjos, o sargento José Lopes de Almeida, o fazendeiro Irineu Gregório Ferraz, o agente da Polícia Civil Euclides de Souza Filho, o funcionário do Detran Jorge Gomes Ferraz, o topógrafo Heronides Cavalcanti Ribeiro e o motorista Elias Nunes Nogueira.

Um mês depois, o major Ferreira, condenado a 31 anos de prisão, saiu, pela porta da frente do Batalhão de Cavalaria Dias Cardoso, onde estava preso, poucas horas depois do governador Roberto Magalhães ter assinado ato, excluindo-o dos quadros da Polícia Militar e que obrigaria sua ida para um presídio. Fugiu para a Bahia e só foi preso 12 anos e dois meses depois, quando administrava uma fazenda na cidade de Barreiras.

A operação foi comandada por Wilson Damázio, que era superintendente da Polícia Federal em Pernambuco. Cumpriu o restante da pena na Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, com bom comportamento. Ele faleceu aos 75 anos no dia 19 de dezembro de 2018, vítima de um infarto no miocárdio, no Residencial Caxangá, onde morava. Estava solto desde 2013, graças a um um indulto presidencial, após cumprir exatos 10 anos, sete meses e 13 dias de prisão.

A reportagem sobre o crime, feita pelo jornalista Tonico Ferreira para o Globo Repórter, rendeu-lhe o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos em 1982. Pedro Jorge de Melo e Silva dá nome ao prédio sede da Procuradoria Regional da República no Recife e a uma Fundação instituída pela Associação Nacional dos Procuradores da República, sediada em Brasília. Também tem seu nome a praça em Olinda, onde foi assassinado.

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