Especialistas avaliam que o acordo comercial fechado entre o Mercosul e a União Europeia tira o Brasil do isolamento e abre um leque de oportunidades ao país.
Anunciado nesta sexta-feira após 20 anos de negociações, o tratado abrange bens, serviços e investimentos de lado a lado.
Produtos agrícolas de interesse do bloco europeu terão tarifas eliminadas enquanto as empresas do continente contarão com acesso efetivo a diversos segmentos.
Já as empresas brasileiras obterão acesso ao mercado de licitações do Velho Mundo, estimado em 1 trilhão e meio de dólares.
Em 2018, o Brasil vendeu 42 bilhões para a Europa, o que representou quase 1 quinto das exportações do país.
A expectativa é incrementar esse montante em 100 bilhões de dólares ou 15% por ano até 2035.
O acordo ocorre num momento de tensão envolvendo as principais economias do mundo: China e Estados Unidos.
Especialistas avaliam que esta é uma mensagem de que há espaço para o diálogo e abertura de novos mercados.
Para o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barboza, o tratado significa uma ruptura das fronteiras do Mercosul.
Até então, o bloco contava com acordos de livre comércio com Israel, Palestina e Egito.
Pelo lado europeu a negociação com o Mercosul é a segunda maior atrás apenas do tratado com o Japão.
As negociações que se iniciaram em junho de 1999 atravessaram várias fases, mas obstáculos dos dois lados sempre impediram uma conclusão.
Inicialmente, os europeus não queriam incluir produtos agrícolas no acerto, o que para os sul-americanos sempre foi um dos pontos principais.
Já o Mercosul relutava em reduzir impostos de importação, preocupado em proteger a indústria local.
Entre idas e vindas, o diálogo tomou um rumo otimista a partir de 2016; na semana passada, a rodada final de negociações foi iniciada por técnicos.
O Brasil enviou para as negociações o chanceler Ernesto Araújo e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
E ainda o secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Marcos Troyjo.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o acordo entre União Europeia e Mercosul põe o bloco sul-americano em um novo nível.
O acordo propõe zerar gradualmente as tarifas de produtos agrícolas brasileiros como laranja e frutas, café solúvel, peixes, crustáceos e óleos vegetais.
Haverá, porém, um limite máximo do que pode ser negociado para carnes, açúcar e etanol.
De acordo com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a lista é bastante ampla e os detalhes e prazos ainda serão divulgados.
Ex-ministro da Fazenda, o secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, disse que, com responsabilidade, a economia brasileira só tem a ganhar.
Em comunicado, a União Europeia celebrou o fato de se tornar o primeiro parceiro comercial do Mercosul.
O bloco também procurou ressalta o tamanho desse pacto: 780 milhões de pessoas em 32 países e 19 trilhões de dólares.