Presidente afastada concedeu entrevista a jornalistas estrangeiros.
Agência O Globo / Foto: Reprodução
BRASÍLIA – Uma semana antes do início do julgamento final de seu impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que escolher o presidente interino Michel Temer como vice-presidente foi um erro político óbvio, porque foi traída. Em entrevista a jornalistas estrangeiros no Palácio da Alvorada nesta quinta-feira, a petista negou que esteja abandonada pelo seu partido e disse que seria erro “monumental” não ir ao Senado se defender.
– Errei porque escolhi uma pessoa que teve uma atitude de traição em relação à cabeça de chapa, que sou eu. Eu tive 54,5 milhões de votos. Os votos foram dados à minha candidatura – declarou Dilma sobre seu companheiro de chapa nas duas eleições.
Ela ironiza uma carta enviada pelo peemedebista em dezembro do ano passado, na qual reclamou de ser um “vice decorativo”:
– Quando ele dizia que era uma figura decorativa, na verdade o que ele queria ser não era vice-presidente, era presidente.
Apesar de admitir que cometeu um erro político “óbvio” ao escolher Temer para vice-presidente, a petista disse que não era possível prever o que aconteceria.
– O (erro) político, é, visivelmente eu errei na escolha do meu vice-presidente. um erro, eu diria assim, óbvio. Da pessoa (Michel Temer) eu esperava lealdade. Agora, o processo político é um processo político que estava em curso. Você não antecipa a realidade, você vive a realidade.
A primeira vez que Dilma declarou publicamente que “pode” ter cometido erros foi quando já estava afastada da Presidência: no dia 12 de maio, em frente ao Palácio do Planalto, acompanhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-ministros.
– Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes – disse Dilma Rousseff à época.
Em carta “ao Senado e ao povo brasileiro” divulgada nesta terça-feira, Dilma escreveu que acolhe com humildade críticas a erros do seu governo. Nesta quinta-feira, a presidente afastada ressaltou, contudo, que também é necessário reconhecer acertos dos governos dela e de Lula.
– Olhar para trás é reconhecer também os grandes acertos do governo do presidente Lula e do meu governo, no sentido dos ganhos sociais.
Ao ser perguntada do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar se ela obstruiu a justiça, Dilma Rousseff respondeu que acha a situação “complicada”, mas se defenderá com “muita naturalidade”. Em seguida, insistiu com os repórteres para que mudassem de assunto.
– Vocês me desculpem. Eu não vim aqui só ficar discutindo isso.
Dilma, que voltou a dizer que a Lava-Jato foi viabilizada pelos governos do PT, e que a operação não mira só na sigla, negou que esteja abandonada pelos correligionários. O presidente da legenda, Rui Falcão, e o próprio Lula discordam da tese de Dilma de que deve haver um plebiscito para convocar novas eleições.
– Não acho que eu tenho falta de apoio do Partido dos Trabalhadores. Então não tenho como responder sua pergunta. Não vejo – afirmou Dilma na primeira resposta da entrevista coletiva. Ao ser questionada sobre a postura do PT sobre o plebiscito, ela completou: – Isso não é falta de apoio, isso é uma diferença de opinião.
A petista irá ao Senado no próximo dia 29, e o julgamento final de seu impeachment começará quatro dias antes. Para ela, não ir ao Senado seria um erro “monumental”, e que ela espera justiça.
– Seria um equívoco monumental entregar a democracia como um campo de debate para outro. Para os golpistas – disse, complementando: – Eu espero, do Senado, justiça. Não posso esperar outra coisa. O que eu farei no Senado é argumentar não só a favor da democracia, a favor do respeito ao voto direto do povo brasileiro, mas também argumentar a favor da justiça.