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Escalada da crise entre Brasil e Venezuela provoca novo racha no PT

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Foto: reprodução

Por Estadão

A escalada da crise diplomática entre o Brasil e a Venezuela provocou não apenas reação do Itamaraty como novo racha no PT. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, saiu em defesa do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, criticado pelo regime chavista, mas até agora não há sinais de que o partido vá rever a posição na qual reconheceu a vitória do ditador Nicolás Maduro na eleição de julho.

O Itamaraty respondeu nesta sexta-feira, 1, à nota em que o governo venezuelano disse que Amorim estava se comportando como “mensageiro do imperialismo americano”.

A gota d´água para o Ministério das Relações Exteriores decidir se manifestar foi o fato de a Polícia Nacional Bolivariana ter postado em suas redes sociais uma fisionomia borrada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo ao fundo a bandeira do Brasil. “#Quem mexe com a Venezuela se dá mal”, diz a mensagem que acompanha a foto.

Em nota, o Itamaraty afirmou que autoridades venezuelanas têm adotado “tom ofensivo” em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais, fazendo “ataques pessoais e escaladas retóricas”.

Antes deste comunicado, Gleisi já havia condenado os insultos contra Celso Amorim, que é filiado ao PT, e defendido o diálogo entre os dois países. Depois disso, porém, preferiu o silêncio.

A eleição que renovará a cúpula do PT deve ocorrer em junho de 2025 e, mesmo sem poder disputar novo mandato, Gleisi tem sido alvo de críticas por parte de uma ala de sua própria corrente, a Construindo um Novo Brasil (CNB), que defende mudanças internas. Trata-se da mesma tendência de Lula. A Venezuela é um tema importante no debate sobre os rumos do partido.

A Executiva Nacional do PT endossou a posição do Conselho Eleitoral da Venezuela, que declarou a vitória de Maduro, um dia depois da disputa no país vizinho. A nota do PT foi divulgada na noite de 29 de julho, apesar das denúncias de fraude.

Em agosto, após um vaivém retórico, Lula disse que não reconheceria o ditador da Venezuela como vencedor – tampouco o oposicionista Edmundo González – enquanto os boletins de urna não fossem apresentados. Vários países pediram verificação dos votos. Sem sucesso.

À época, Gleisi avaliou que Lula estava certo ao tomar essa posição. “Mas nós somos partido, e não governo. Nós reconhecemos a institucionalidade do resultado. Agora, tem um conflito lá e a disputa está judicializada. Temos de esperar a decisão do Supremo da Venezuela”, argumentou a deputada, em entrevista ao Estadão.

No dia 22 daquele mês, a mais alta Corte venezuelana, que é alinhada ao regime de Maduro, declarou a vitória do ditador e proibiu a divulgação das atas eleitorais.

A partir daí as relações entre Lula e Maduro – que chegou a ser recebido com tapete vermelho no Palácio do Planalto, em maio de 2023 – degringolaram de vez.

Mesmo com todas as evidências de irregularidades, o Foro de São Paulo também reconheceu, em 29 de setembro, a reeleição de Maduro. A dirigente do PT Mônica Valente é secretária executiva do Foro – organização que reúne partidos de esquerda da América Latina – e subscreveu o documento.

O auge da crise com a Venezuela, no entanto, ocorreu nos últimos dias. Na semana passada, o Brasil vetou o ingresso do país vizinho no Brics durante a cúpula de líderes do bloco, realizada em Kazan, na Rússia. Em protesto, Maduro convocou para consultas, na quarta-feira, 30, o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vicente Vadell. Na diplomacia, a convocação do representante de um país significa gesto de extremo desagrado.

“É um absurdo o que está acontecendo. Chegou a hora de o nosso governo rever as relações com a Venezuela. E já passou da hora de o PT fazer uma autocrítica sobre o seu apoio a Maduro”, disse o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). “Os pobres estão sendo expulsos da Venezuela, que virou uma autocracia. Nós vamos continuar apoiando isso?”.

Lopes chegou a sugerir que o PT tomasse a frente de um movimento para criar uma entidade com o objetivo de substituir o Foro de São Paulo. “Deveríamos constituir um foro democrático de centro para pensar o desenvolvimento social e econômico da América Latina, as conexões entre os diversos países e projetos conjuntos nas áreas social e de infraestrutura”, insistiu o deputado.

Para o historiador Valter Pomar, integrante do Diretório Nacional do PT, Lopes está assumindo “posições extremistas”. Coordenador da corrente Articulação de Esquerda e diretor da Fundação Perseu Abramo, ele lembrou que, em 2016, o deputado atribuiu o fracasso do PT naquelas eleições ao fato de o partido não abandonar o discurso do “golpe”.

Pomar destacou que a nota da Executiva do PT reconhecendo a reeleição de Maduro passou sem contestações. “No PT existem diferentes opiniões sobre muitos assuntos. Mas a posição da direção do partido foi aprovada e ninguém pediu para que ela fosse revista ou alterada”, assinalou. Questionado sobre as críticas do regime venezuelano a Amorim, ele respondeu: “Acho que as duas partes – o governo do Brasil e o governo da Venezuela – deveriam parar de fazer notas.”

Na avaliação do presidente do PSB, Carlos Siqueira, o que ocorre na Venezuela é reflexo de um regime “ditatorial, incivilizado e precário”. Siqueira afirmou que o governo Lula foi “no mínimo ingênuo” ao não admitir de pronto a fraude na eleição venezuelana.

“Celso Amorim deu muitas voltas até que houvesse o recuo”, constatou o presidente do PSB. “De ditaduras nós nunca podemos esperar eleições livres, soberanas e democráticas”.

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