Ednaldo ficou desempregado em junho e divide a casa com dez pessoas. Apenas uma tem renda, de um salário mínimo.
JC Online / Foto: Jedson Nobre/JC Imagem
O que a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), a Arena de Pernambuco e o Estaleiro Atlântico Sul têm em comum? Todas são obras pernambucanas idealizadas para gerar desenvolvimento e emprego para o Estado, mas deixaram de representar o caminho de um futuro próspero após a descoberta de corrupção durante as investigações da Lava Jato. Os esquemas envolvem acordos ilegais de pagamento de propina e caixa 2 entre empresários e políticos. A Rnest, por exemplo, começou a sair do papel em 2007 e empregava mais de 40 mil pessoas no auge da construção, em 2012. Hoje, dez anos depois e mais de R$ 60 bilhões investidos, as obras se arrastam e milhares de trabalhadores foram demitidos.
No centro das denúncias de corrupção, a Odebrecht ganhou participação nesta e em outras obras espalhadas pelo País ao comprar vantagens junto a governos. A empreiteira movimentou R$ 10,6 bilhões em propinas entre 2006 e 2014, chegando a criar, dentro da própria empresa, um setor responsável pela administração dos valores.
A corrupção desenfreada no Brasil, que envolve políticos de quase todos os partidos, afeta não apenas os grandes investimentos. A população sofre porque o desvio de recursos retira investimentos da educação, saúde, saneamento básico, transporte público. O resultado é que vivemos em um país que não cresce há três anos, tem uma educação deficiente, 13 milhões de desempregados e uma das mais altas taxas de desigualdade social.
Com o caixa 2, além de eleger políticos ilegalmente, empresas realizam pagamentos “por fora” para receber vantagens indevidas. Os gestores públicos, por sua vez, superfaturam valores de obras, tiram vantagem disso e repassam parte do dinheiro da corrupção para “as empresas amigas.”
Quando chega o período de novas eleições, os políticos precisam de mais dinheiro. Logo, recorrem às empresas favorecidas e as obras começam a receber aditivos nos contratos e ter seus prazos estendidos. Em alguns casos, o dinheiro que alimenta os esquemas vem de estatais, ocupada por pessoas indicadas por quem está no poder.
A relação promíscua entre o público e o privado no Brasil, além de histórica, atinge diretamente o bolso do consumidor, do contribuinte. Obras são paralisadas, pessoas perdem o emprego, impostos são elevados, serviços públicos ficam cada dia mais precários.
“Fiquei desempregado em junho último. Disseram que a demissão era por causa da crise. Roubaram demais, as empresas foram fechando”, lamenta o motorista Ednaldo Queiroz, que receberá a última parcela de seu seguro-desemprego neste mês. Ednaldo é morador de uma casa simples no bairro de Monsenhor Fabrício, Zona Oeste do Recife.