Por Folha de São Paulo
Ricardo Nunes (MDB), com 29,48% dos votos válidos, e Guilherme Boulos (PSOL), com 29,07%, vão disputar o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo após superar Pablo Marçal (PRTB), com 28,14%, na disputa mais acirrada na capital paulista desde a redemocratização.
Com 100% das urnas apuradas, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou a projeção feita pelo Datafolha às 19h35 com base na votação computada até então.
Os eleitores voltarão às urnas no dia 27 de outubro em 52 cidades onde haverá segundo turno, após uma primeira etapa com avanço da direita pelo país.
Ao todo 11 capitais definiram a eleição já neste domingo (6). Outras 15 terão nova votação em 27 de outubro.
Na capital paulista, nunca três candidatos tinham terminado a corrida nas primeiras posições com percentuais tão próximos quanto neste ano.
Em anos anteriores, quando houve suspense, ele envolveu apenas primeiro e segundo ou apenas segundo e terceiro colocados. Em 2008, por exemplo, Gilberto Kassab (então no DEM), com 33,61%, superou por pouco Marta Suplicy (PT), com 32,79%, mas os dois sobraram em relação a Geraldo Alckmin (PSDB), em terceiro com 22,48%.
Apenas 25 mil votos separaram Nunes de Boulos, que somaram cerca de 1,8 milhão cada um, enquanto o psolista conquistou menos de 60 mil eleitores a mais do que Marçal.
Foi uma campanha marcada por episódios de baixo nível, a maioria dos quais envolvendo a figura de Marçal —que recebeu uma cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) após provocações em um debate, viu seu assessor dar um murro no marqueteiro de Nunes em outro e, a dois dias da votação, divulgou um laudo falso tentando associar Boulos ao uso de cocaína.
Os demais candidatos se mantiveram distantes do primeiro pelotão. Tabata Amaral (PSB), com 9,91%, Datena, com 1,84%, e Marina Helena (Novo), com 1,38%
Nunes, atual prefeito da cidade, contou com dois padrinhos de peso: o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que lhe deu apoio decidido, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que pouco se engajou na campanha e lançou sinais na direção de Marçal.
Agora, o ex-presidente prometeu mergulhar de cabeça na eleição paulistana e afirmou que só não se envolveu mais porque diziam que ele poderia atrapalhar. Bolsonaro também afirmou que não tem mais conversa com Marçal, embora espere que os votos do influenciador se transfiram para o atual prefeito.
Boulos, por sua vez, foi o nome escolhido pelo presidente Lula (PT) para liderar a principal aliança de esquerda na capital paulista. O PT, que dirigiu a cidade em três oportunidades, ficou com a vaga de vice na chapa, entregue à ex-prefeita Marta Suplicy.
No segundo turno, ele receberá o voto de Tabata, mas a deputada federal afirmou que não vai subir em palanque nem negociar cargos.
De acordo com pesquisas feitas pelo Datafolha ao longo da campanha, Nunes tinha ampla vantagem em uma disputa direta com Boulos, mas políticos e especialistas gostam de dizer que segundo turno é uma nova eleição.
Lula e a esquerda contam com isso, e não só pelo que significa a Prefeitura de São Paulo. No restante do país, partidos de direita avançaram em todas as regiões.
Nas capitais, candidatos impulsionados por Bolsonaro se saíram melhor do que os aliados de Lula: não só venceram mais no primeiro turno como também chegaram mais ao segundo.
O PL, em particular, avançou ao segundo turno em nove capitais e já levou duas —Rio Branco e Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas, conhecido como JHC, venceu com 83,25% dos votos, maior percentual do primeiro turno.
O PT, em contrapartida, não elegeu ninguém nas capitais e mantém esperanças, ainda que tênues, em apenas quatro, e em duas delas o adversário é do PL: Fortaleza e Cuiabá.
Entre as nuances desse quadro polarizado, há o fato de a própria direita ter suas fragmentações e de o bolsonarismo ter sofrido perdas expressivas, como as derrotas de Renato Bolsonaro (irmão do ex-presidente) em Registro (SP) e de Rosângela Moro (União Brasil) em Curitiba.
Lula, de seu lado, pode comemorar as vitórias em primeiro turno de João Campos (PSB), no Recife, e Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, a segundo maior cidade do país.
Com Paes à frente, o PSD se destacou nas capitais ao computar o maior número de vitórias já no primeiro turno, três.
Além de Paes e Campos, outros oito prefeitos se reelegeram. Foi o caso de Bruno Reis (União Brasil), em Salvador, que teve 78,6% dos votos. Embora tenha contado com o apoio formal de Bolsonaro, o candidato se descolou da figura do ex-presidente e representou uma vitória para o grupo político de ACM Neto.
A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministra Cármen Lúcia, anunciou que a abstenção no 1º turno das eleições municipais chegou a 21,71% dos eleitores. Em 2020, ano das últimas eleições municipais e durante a pandemia da Covid-19, percentual foi de 23,15%.