Câmara decide destino da presidente 24 anos depois do afastamento de Collor e 13 anos após o PT chegar ao poder
ANDRE COELHO / Agência O Globo
BRASÍLIA — Um dia antes da votação do impeachment no plenário da Câmara, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice Michel Temer (PMDB) se empenharam pessoalmente na conquista dos votos dos deputados. O Palácio da Alvorada e o Palácio do Jaburu se transformaram, neste sábado, em bunkers de guerra. A presidente decidiu não participar do ato no acampamento de manifestantes em Brasília para articular apoios. Temer voltou de São Paulo, onde pretendia passar o final de semana, e chegou a Brasília no fim da manhã para continuar a receber parlamentares na residência oficial, após a ofensiva do governo, que conseguiu reverter ontem alguns votos de deputados antes favoráveis ao impeachment. A sessão de votação na Câmara está prevista para começar às 14h deste domingo. Para o impeachment ser aprovado, são necessários 342 votos.
A presidente e o vice também discutiram pelas redes sociais. Após a presidente divulgar nas redes sociais um vídeo em que chamou o processo de impeachment de “aventura golpista” e “fraude jurídica e política” e disse que programas sociais estão ameaçados, o vice-presidente Michel Temer usou o Twitter para negar que acabaria com o programa Bolsa Família.
O ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), também presidente do PMDB, são alguns dos políticos que participaram das articulações com Temer.
A presidente arregaçou as mangas logo cedo: passou o dia telefonando para parlamentares ou recebendo-os em sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Ela desistiu de participar do ato com acampados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos de moradia que defendem seu mandato — não queria prejudicar sua imagem nos setores conservadores do Parlamento dos quais também espera apoio
Dilma ficou reunida com seus ministros mais próximos e recebeu os governadores do Acre, Tião Viana (PT), do Ceará, Camilo Santana (PT), do Piauí, Wellington Dias (PT) e do Amazonas José Melo (PROS). Os quatro ficaram em contato com deputados de seus estados, pressionando-os para votarem contra o impeachment.
À tarde, Dilma foi ao seu gabinete no Palácio do Planalto, segundo fontes, para buscar um “mapa de votos”. Passou menos de uma hora no prédio e voltou para casa.
Com a voz rouca e aparência abatida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva representou Dilma no evento do MST e manteve contato, por telefone e pessoalmente, com deputados. No acampamento, Lula comparou as últimas negociações em busca de votos com a “bolsa de valores”, devido ao “sobe e desce” do placar do impeachment. O líder petista intensificou a ofensiva contra Temer e afirmou que o PMDB deve concorrer “nas urnas” em 2018:
— Parece a bolsa de valores, tem hora que o cara está com a gente, tem hora que não está mais. E você tem que conversar 24 horas por dia — afirmou o ex-presidente.
Hoje, Dilma ficará no Alvorada acompanhando a votação, ao lado de ministros, que, por sua vez, tentarão até o último momento obter votos. É provável que a presidente fale à imprensa após o resultado da votação.