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Derrotas no Congresso mostram a falta da ‘tropa de choque’ do governo

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Foto: reprodução

Por José Maria Trindade da Rádio Jovem Pan

Depois do estremecimento nos comandos das Forças Armadas, o ministro da Defesa, general Braga Netto, será obrigado a ir à Câmara falar sobre picanha, filé, bacalhau, salmão e cerveja. Não basta ter maioria, o Congresso exige trabalho no dia a dia como em guerra de guerrilhas. O governo está perdendo em detalhes e cochilou na convocação do ministro e na aprovação de um orçamento considerado “inexequível” por aliados e até por adversários do presidente Bolsonaro. Está faltando o famoso braço, suor e trabalho diário no acompanhamento das atividades dos deputados e senadores. Não é falta de apoio e muito menos os famosos recados passados pelo Centrão em momentos de crise. O que acontece é que o grupo de apoio do presidente não se considera uma tropa de choque. Este é um trabalho a ser executado pelo PSL e pelos bolsonaristas mais próximos. Na política, cada um tem sua função e seu preço por atividade. No momento, o grupo de centro apoia, mas não foi contratado para ir ao perigoso posto de linha de frente.

Os deputados da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovaram a convocação, e não o convite, como é de praxe. O ministro Braga Neto terá que ir e já até marcou para o dia 28, prazo final. A pauta estava prevista, foi antecipada em uma semana. O requerimento de convocação do ministro da Defesa tinha como alvo o general Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro. Como houve a troca, o nome dele foi retirado do requerimento, mantendo a convocação do ministro da Defesa para explicar o gasto do Exército. Os deputados vão aproveitar a discussão sobre gastos para aprofundar no debate sobre as novas nomeações e desconfianças sobre o uso político das Forças Armadas. A denúncia é de que os preços dos produtos comprados estão acima do mercado. São 13 mil quilos de picanha a R$ 84 o quilo e alcatra a R$ 82 o quilo, além de 80 mil latas de cerveja. A compra foi realizada por meio de licitação onde empresas da mesma família participaram. Não se trata de uma defesa fácil, mas explicável diante do tamanho do Exército e das atividades desenvolvidas.

No Orçamento, a cochilada foi maior. O ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que ir ao Palácio e falar diretamente ao presidente: “Se o senhor assinar este documento, estará se sujeitando a um processo de pedaladas que vai dar impeachment”. O presidente vai vetar, haverá apenas parte do orçamento e a votação de aditivos será para evitar gastos acima do teto constitucional. Só que esta relação demanda desgastes e esforços que seriam evitáveis. Os deputados e senadores puxaram para as emendas sujeitas ao controle dos relatores, de mais de R$ 26 bilhões de reais. Para justificar a manobra, foram retirados recursos da Previdência, do Seguro Desemprego e despesas previsíveis. O argumento dos integrantes da Comissão de Orçamento é de que durante o tempo todo os assessores do governo estavam lá e não houve uma só votação sem o sinal verde dos representantes da equipe econômica.

Os dois episódios terão que ser administrados, mas mostram o mesmo ponto: a falta de acompanhamento por parte do governo. A maioria não está administrada. O governo tem uma base de apoio forte na Comissão de Fiscalização e Controle, mas não foi demandada. Os governistas estavam fora do plenário no momento da votação. Não foram mobilizados para, pelo menos, trocar a convocação por um convite. No orçamento a situação é mais grave, o projeto é o mais importante votado no Congresso. Se houvesse um só motivo para a existência do Legislativo seria para votar o orçamento. Faltou a presença firme do governo na votação. No caso da convocação do ministro da Defesa, general Braga Netto, o autor do requerimento, deputado Elias Vaz (PSB-GO), até se assustou por não receber nenhum pedido de não votação do requerimento ou mesmo a troca de convocação para convite em virtude da troca de ministro. Na Comissão de Relações Exteriores, outra festa da oposição, foram convidados integrantes do ministério de Relações Exteriores e da Defesa para falar sobre troca de comando. Pelo menos nesta comissão, em vez de convocação, o atual presidente, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), aprovou o convite, menos mal.

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