Mudança pode inviabilizar sessão do Conselho de Ética que votará relatório sobre processo de cassação do presidente da Câmara.
Agência O Globo
BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou para o início da tarde desta terça-feira a formação da comissão especial que irá analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O adiamento fará com que a instalação da comissão ocorra perto do horário previsto para que a sessão do Conselho de Ética finalmente vote o relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato de Cunha, marcada para 14h.
Em repudio à decisão anunciada por Cunha, o líder do PT, Siba machado (AC) deixou a reunião de líderes. Segundo ele, o processo começa contaminado. Na semana passada, diz Sibá, a sessão tinha sido marcada para hoje e o combinado foi de que os líderes fariam as indicações.
— Isso arrebenta qualquer relação, não é razoável dentro do campo democrático. Ele está mudando os prazos e permitindo a formação de chapa alternativa, isso pode fomentar a briga interna nas bancadas. Discordo disso e não vou assistir e assinar isso — disse Sibá ao deixar a reunião:
— Isso contamina o processo. Vou discutir e ver o que fazer. Estão fazendo isso para criar problema. Temos que conversar tudo de novo. Temos uma guerra e vamos para ela de qualquer jeito. Mas não vou concordar com isso.
OPOSIÇÃO VAI PROTELAR INDICAÇÃO DOS NOMES
Ainda sem a adesão necessária para levar o impeachment adiante, líderes da oposição vão protelar o máximo possível a escolha dos nomes. A avaliação dos dirigentes é que, se o processo andar muito rápido, “o governo leva”. O melhor cenário para integrantes do PSDB e DEM é que a análise do processo só fique para depois do Carnaval, em fevereiro. O que os daria tempo suficiente para mobilizar as ruas e, assim, pressionar parlamentares.
– Estamos enrolando para embolar essa nomeação. Queremos que todo o processo demore para garantir que a análise fique para depois do Carnaval. Vamos tocando sem pressa alguma. Porque, se for muito rápido, o governo leva essa – disse um dirigente tucano.
O PSDB, que tem direito a seis nomes, ainda não fechou a lista dos integrantes da comissão do impeachment. Há duas correntes no partido: aqueles que acham que é dispensável a participação dos líderes, que já possuem um protagonismo natural na política, dando lugar assim a outros quadros tucanos; e os defensores de que os líderes participem sim da comissão, fazendo uma “simetria” com o PT no campo oposto.
Os petistas colocaram no órgão não só o líder do partido na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), como o líder do governo, José Guimarães (CE). Mas a indefinição no campo da oposição é mais para fazer com que o processo se alongue do que propriamente pela dificuldade de nomear os integrantes. Entre os tucanos, a tendência majoritária é que participem os líderes da minoria, Bruno Araújo, e o líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio.
CONSELHO DE ÉTICA
Caso a instalação ocorra de fato amanhã, isso pode inviabilizar a votação no Conselho de Ética e adiar, mais uma vez, uma decisão sobre o processo contra Cunha. Há ao menos três semanas aliados do presidente da Câmara conseguem, com manobras, protelar a análise do relatório no colegiado.
Além de ajudar Cunha, defensores do impeachment se posicionaram favoravelmente ao adiamento por outros motivos. Acreditam que conseguirão, até lá, construir um consenso sobre a presidência e a relatoria na comissão especial para que sejam representantes com posicionamento mais “independente”, que não sejam deputados automaticamente alinhados ao Palácio do Planalto.