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Como João Campos pode ajudar Lula a recuperar popularidade no Nordeste

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Foto: reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem perdendo popularidade nos últimos meses, inclusive em tradicionais redutos da esquerda, como o Nordeste. Ao mesmo tempo, o prefeito de Recife, João Campos (PSB), segue o caminho contrário, colocando-se desde já como favorito para o governo de Pernambuco em 2026 e oferecendo um palanque para o petista recuperar terreno na região.

De acordo com uma pesquisa da Quaest, divulgada em 2 de abril, a desaprovação de Lula atingiu 56%. No Nordeste, esse nível cai para 46% e segue uma curva de crescimento para ultrapassar a aprovação que é de 52% — a região é a única do Brasil onde o presidente ainda é aprovado pela maioria. Entretanto, a aprovação dele já foi de 69%, em abril de 2023.

A popularidade de Campos, por outro lado, é flagrante. Ele foi reeleito em outubro do ano passado com 78,11% dos votos válidos — o segundo colocado, Gilson Machado (PL), fez 13,9%. Um resultado que demonstra o bom momento do político e o catapulta para a disputa contra a reeleição da governadora Raquel Lyra (PSD) no ano que vem.

O Paraná Pesquisas fez um levantamento em março, divulgado no dia 14, que mostra o prefeito com quase 40 pontos percentuais acima de Raquel Lyra em dois cenários pesquisados, indicando vitória já no primeiro turno. No primeiro cenário, ele tem 60,9% e ela 22,2%. No segundo, ele vai a 61,0% e ela oscila para 22,1%. Campos também é beneficiado pela desaprovação da governadora, que atingiu 50,6% na mesma pesquisa.

Os momentos distintos já fizeram Lula buscar Campos neste ano. Os dois conversaram sobre redes sociais e internet em um momento de dificuldade da comunicação presidencial. Como resultado, diante a crise do Pix, em janeiro, o governo federal puxou a então responsável pelas redes sociais do prefeito de Recife, Mariah Queiroz Costa Silva, para ser a estrategista das redes da Presidência da República — ela foi nomeada para fazer parte da Secretaria de Comunicação (Secom) assim que Sidônio Palmeira assumiu a pasta. Campos é o prefeito com mais seguidores no Instagram: 2,9 milhões.

Menos de dois meses depois de conversarem, os dois se encontraram para assinar um acordo entre a Advocacia-Geral da União (AGU) e a prefeitura de Recife para encerrar uma demanda judicial que vai liberar R$ 900 milhões para a educação da capital pernambucana. Além de agradecer a Lula, Campos afirmou: “esse é o maior acordo da história da cidade do Recife.”

A proximidade entre Lula e Campos indica que estarão no mesmo palanque em 2026, um trabalhando pelo outro. Neste momento, quem precisa de mais ajuda é Lula, que patina nas pesquisas para 2026, até mesmo em cenários em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não participa do levantamento estimulado. A pesquisa da Quaest, por exemplo, mostra que em dezembro de 2024, 52% dos entrevistados conhecem Lula e votariam nele. Quatro meses depois, esse índice caiu para 41%.

Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Arthur Leandro, Lula precisará de lideranças locais para conter danos eleitorais, especialmente se o campo da direita conseguir emplacar uma candidatura competitiva, não necessariamente ligada a Bolsonaro. O ex-presidente busca a reversão da inelegibilidade na Justiça Eleitoral e pode ser beneficiado se o Congresso aprovar o PL da Anistia, que tem o apoio de oito governadores.

Na avaliação do cientista político, a influência eleitoral de João Campos se consolida em uma das frentes da esquerda, possivelmente no “quadro de maior capacidade de mobilização política” do campo progressista no Nordeste. Segundo ele, o prefeito do Recife combina capital eleitoral concreto, base partidária, poder executivo e bom trânsito político.

Mesmo assim, Campos ainda é uma liderança local, sem projeção nacional, limitando seu alcance na tentativa de reversão da queda de popularidade do presidente no Nordeste. “Campos pode oferecer um palanque forte em Pernambuco e servir de referência progressista regional. No entanto, seu capital político ainda é local”, ressalta Leandro.

“Embora possa ajudar a manter a competitividade de Lula no estado, e influenciar positivamente em áreas vizinhas, isso não seria suficiente para sustentar, sozinho, a recuperação de popularidade do presidente no Nordeste”, complementa o professor da UFPE.

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