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Canal do Sertão de Pernambuco, uma discussão a ser retomada

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Foto: ilustração

Por Geraldo Eugênio*

O projeto original teve como fundamento o abastecimento de cidades, distritos e vilas, além do uso na pecuária animal, esta principal atividade econômica do semiárido dependente de chuvas. Avançou de forma consistente nos dois primeiros mandatos do Presidente Lula e Dilma Rousseff, diminuindo a intensidade das obras a partir de então.

“No governo Bolsonaro algumas obras de finalização foram concluídas, algo em torno de 2% do projeto total, entretanto o que se viu foi uma máquina de propaganda intensa em atribuir ao Presidente a salvação do Nordeste e a solução das secas na região. A contrapropaganda foi intensa nos primeiros meses do atual governo quando vários órgãos de imprensa publicaram, a exemplo da Revista Oeste haver publicado em 15 de abril de 2023 a seguinte matéria: “A sabotagem contra a transposição do Rio São Francisco, quase um ano depois de considerada enfim terminada, a obra agora sofre com o desligamento das bombas, o que afeta o fornecimento de água no sertão nordestino”.

Logo a seguir foi comprovado que não se passou de uma ´fake news` mas algo que a grande maioria dos meios que a noticiou, inclusive esta revista, não se desculpou por haver incorrido em algo tão danoso para a região nordestina.

O São Francisco continuou no radar

A realidade é que a linha mestre da transposição pode ser considerada um sucesso e as águas do São Francisco chegam aos açudes do Castanhão, no Ceará, de Corema, na Paraíba e abastecendo dezenas de municípios da região, incluindo duas cidades estratégicas do ponto de vista econômico, Campina Grande, na Paraíba e Caruaru, em Pernambuco.

“Uma questão que está sendo resolvida diz respeito ao custo do bombeamento e distribuição dessa água. Sente-se que os estados e municípios beneficiários tendem a alegar que não têm como arcar com o pagamento dessa conta. Além disso, com justiça, surgem as demandas pelo uso agrícola e industrial. No caso da agricultura, é sabido que houve uma mudança nas regiões do Médio e Submédio São Francisco com a instalação de milhares de hectares irrigados, principalmente com recursos públicos, mas predominantemente a partir da atração deempreendedores e empresas, inclusive destacando-se que parte deste avanço tem sido dado por investidores de outros estados.

Uso múltiplo da água

A discussão a ser resolvida é como definir a quantidade de água da bacia hidrográfica a ser usada em atividades urbanas e, em particular já que é o maior demandador na agricultura irrigada. Neste sentido, na última década uma região que avançou muito na expansão da irrigação foi o Oeste da Bahia através da instalação de milhares de pivôs centrais e poços profundos no maciço de Urucuia. Este planalto é uma das principais fontes de recarga do rio São Francisco, qualquer volume de água retirado à montante obviamente implica na redução da vazão do rio que chegará à barragem de Sobradinho, seguindo-se o complexo de Itaparica e Paulo Afonso.

Por outro lado, alguns estados, a exemplo do Ceará e da Paraíba incentivam a irrigação inclusive fomentando o plantio de grandes áreas com o cultivo da cana-de-açúcar. O uso da água para dotar a grande quantidade de pequenos e médios imóveis uma quantidade que permita a segurança hídrica de uma área limitada é possível, caso o volume transportado exceda o consumo humano e animal, mas para irrigar grandes culturas não parece ser o mais adequado. Importante que se diga que o valor da produção dificilmente custará o custo da água que sairá do rio São Francisco e terá que percorrer centenas ou milhares de quilômetros até esses empreendimentos.

A discussões que se deram inicialmente no terceiro do governador  Arraes e nos dois mandatos subsequentes do governador Jarbas Vasconcelos, ficando claro que uma condição indispensável para que Pernambuco concordasse com a passagem dos canais em seu território beneficiando os estados ao norte era que o canal do Sertão, uma obra que abrange os municípios de Casa Nova, na Bahia, e Petrolina, Afrânio, Dormentes, Santa Filomena, Santa Cruz, Ouricuri, Trindade, Araripina, Ipubi, Bodocó, Granito, Exu, Parnamirim, Moreilândia, Cedro e Serrita, em Pernambuco, seria realizado.

Este é um projeto que usaria solos recomendáveis à irrigação por suas características físicas, químicas e de topografia. Estima-se que poderia alimentar uma atividade agrícola permanente com fruticultura, hortaliças, condimentares de aproximadamente trinta mil hectares e empregaria direta e indiretamente ao redor de cem mil pessoas. A iniciativa se encontra paralisada há vinte anos, com seguidas promessas da contratação do projeto executivo pela Codevasf, mas que não é considerado como uma das prioridades institucionais seja do governo federal ou estadual.

A terceira mais importante iniciativa para o estado

O que está sendo proposto é que o governo do estado e os municípios que seriam beneficiados articulem-se, trabalhem em uma única direção e negociem com o governo federal a do que foi negociado com Pernambuco quando do planejamento do projeto. Em caso de Pernambuco abdicar desta iniciativa que transformaria o Sertão do Araripe de modo radical, ampliando um eixo de desenvolvimento que começaria no Exu, descia até Petrolina, seguindo até Jatobá, na interseção com Alagoas e a Bahia, não há do que reclamar de demandas apresentadas posteriormente a exemplo do que foi citado acima.

Pensando bem, o canal do Sertão de Pernambuco pode ser considerado a terceira mais importante iniciativa do ponto de vista econômico e político para o estado, seguindo-se a duplicação da BR 232 e a conclusão da ferrovia Transnordestina até o Porto de SuapeO Araripe tem outras demandas, mas a expansão da área irrigada de Pernambuco seria parte deste conjunto de projetos estratégicos indicativos do desenvolvimento integrado entre todas as regiões do estado.

*Professor Titular da UFRPE-UAST

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