*Por José Maria Trindade
O salário emergencial pago durante a pandemia do coronavírus muda o perfil liberal do governo. Era para ser um extra de três meses e pronto, mas toma conta do núcleo próximo ao presidente Jair Bolsonaro e pode se tornar permanente. Aliados levaram ao Palácio resultados milagrosos da distribuição do dinheiro. Um derrame de R$ 50 bilhões por mês. Não é pouco e os resultados apareceram. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, chamou ao seu gabinete líderes aliados no Congresso para mostrar números do programa Bolsa Família que foi turbinado pelo salário extra. Muitos beneficiados receberam a mais com a injeção do auxílio. Segundo deputados, o ministro Onyx está eufórico com os resultados. Não é só atendimento social, para os técnicos do governo, esta renda emergencial tem sustentado a economia e isto justificou o pagamento de mais duas parcelas.
O argumento é econômico, mas os resultados políticos falaram mais alto. Dados mostrados ao presidente indicam que a popularidade dele aumentou – e muito. A aceitação atingiu bolsões do PT e provocou milagres inclusive no Nordeste. O dinheiro, segundo cálculos do ministro Onyx Lorenzoni, chega a pelo menos 150 milhões de brasileiros. A conta aí é justificada levando em consideração o número de pessoas por família que são beneficiadas indiretamente. Cada salário acaba chegando a pelo menos três pessoas. Nas avaliações do Ipea, pode chegar a quatro membros da família, como acontece no bolsa família. O salário emergencial se transformou na marca do governo Bolsonaro e aí está a mudança. Foi criado um novo canhão político que vai certamente influenciar nas eleições municipais deste ano. Na janela de troca partidária esta tendência está estampada. Os partidos de esquerda perderam filiações de prefeitos num reposicionamento para a campanha eleitoral. Em política estar ao lado de quem tem a chave do cofre é sempre muito importante.
O desafio agora do ministro Onyx é tornar perene o salário provisório. Os planos já estão prontos. Logo depois da pandemia, o novo projeto com números extraordinários será finalmente lançado, é o Renda Brasil. A origem do projeto está na equipe econômica: o ministro Paulo Guedes deu o sinal verde. O Ministério da Cidadania turbinou a proposta. Politicamente, a estratégia é apagar a grife petista que resiste por aqui, chamada Bolsa Família. Fortemente criticada durante a campanha do presidente Jair Bolsonaro, o programa será ampliado. O novo projeto que vai substituir o Bolsa Família será diferente não só no nome. Novos valores, mais altos, e unificando todos os programas sociais, ou seja, mais dinheiro e mais beneficiados. Mudam também os critérios para ingresso e saída do programa. Haverá a possibilidade de saída e volta, caso a nova fonte de renda falhe. De novo, o pagamento do salário emergencial deixa legados. Um novo cadastro foi criado e chama a atenção para o grupo dos invisíveis. Apareceram os que não tinham conta em banco e até os que não tinham documentos e, por isso, embora tenham direito, não conseguiam chegar ao benefício social. Perto de 20 milhões de brasileiros estão nesta situação. Um dado importante que será usado pelo governo. A popularidade do presidente em Pernambuco por ocasião da abertura da comporta da transposição do Rio São Francisco “virou a chave” do governo, segundo aliados. O presidente Jair Bolsonaro se apaixonou pelo social. O custo? Isto se discute mais tarde, um assunto para o gerente do posto.
*José Maria Trindade é repórter e comentarista da Jovem Pan