O capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) promete atrair mais de 100 deputados federais, oito senadores e quatro governadores para o ato deste domingo (25) na Avenida Paulista, convocado por ele mesmo após ser alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal (PF), que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado. O levantamento inicial sobre a presença dos deputados foi divulgado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) – confira a lista no fim desta reportagem.
Bolsonaro e seu entorno buscam mostrar força ante o cerco do Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-mandatário. Ao mesmo tempo, almejam criar musculatura política para as eleições municipais deste ano. Os deputados que, segundo a lista de Zambelli, devem comparecer ao evento representam 20% da Câmara, uma força que, apesar de minoritária, é significativa.
Entre os políticos mais célebres que deverão comparecer ao evento estão os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Melo (Santa Catarina) e Ronaldo Caiado (Goiás). Líderes da Câmara, como o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion (PP-PR), e o presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, Joaquim Passarinho (PL-PA), também deverão ir ao ato. A grande maioria dos parlamentares que confirmaram presença é do Partido Liberal, mas há aliados de Bolsonaro de partidos como União Brasil, MDB, PP e Republicanos.
A presença do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), confirmada por ele na semana passada, também será destaque, já que o político busca apoio de Bolsonaro para se reeleger em outubro. Os deputados Carlos Jordy e Alexandre Ramagem, outros dois pré-candidatos do PL para eleições de outubro em Niterói e no Rio, respectivamente, confirmaram presença – ambos foram alvos de operações da Polícia Federal no começo do ano.
O pastor Silas Malafaia, um dos principais aliados de Bolsonaro e um dos organizadores da manifestação, deve ser um dos oradores. Segundo o próprio ex-presidente, além dele e de Malafaia devem discursar o governador de São Paulo e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. “A princípio apenas essas pessoas falarão. Qual o recado ali? Em defesa do Estado democrático de Direito, da nossa liberdade e um retrato para o Brasil e imagens para o mundo do que nós, de verde e amarelo, queremos: Deus, pátria, família e liberdade”, disse em entrevista na quarta-feira (21).
Toda esta movimentação, segundo o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, mostra que o ex-presidente ainda possui grande capital político e poder de influência nas eleições municipais deste ano, apesar da inelegibilidade determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da pressão das operações da PF que atingiram tanto ele quanto seu entorno.
“É inegável que Bolsonaro, mesmo após seu mandato presidencial, continua sendo um ativo político significativo. Sua base de apoio é robusta e fervorosa, e deve se fazer presente nas ruas no próximo domingo”, avalia.
Por outro lado, ele pondera que “é preciso considerar que a mobilização desses apoiadores não é necessariamente uma garantia de ganhos eleitorais”. Nesse contexto, o sucesso da oposição nas eleições de outubro também dependerá da capacidade de Bolsonaro de consolidar e ampliar seu apoio.
“A inelegibilidade de Bolsonaro, por ora, não deve ser subestimada. Apesar de seu capital político, ele não pode concorrer nas próximas eleições. No entanto, seu papel como influenciador e formador de opinião permanece crucial. Seja apoiando candidatos alinhados com sua visão política ou influenciando a agenda política, Bolsonaro continuará exercendo impacto nas eleições de 2024”, acrescentou Arruda.
Na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), apesar da promessa de participação de vários políticos, a quantidade de pessoas que o ato levará para a Avenida Paulista também demonstrará o grau de influência de Bolsonaro sobre o eleitorado.
“Se ele conseguir fazer uma grande manifestação, com adesão de congressistas, governadores e personalidades políticas e povo, vai conseguir mostrar uma força política que pode se refletir na capacidade de transferir votos e de influenciar o pleito. Isso pode ter ênfase nos municípios com mais de 200 mil habitantes, que são extremamente relevantes para o projeto político dos partidos”, disse.
Por outro lado, ele lembra que o desenrolar das investigações contra o ex-presidente também pode interferir negativamente na estratégia do PL, como a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que Bolsonaro não se comunique com outros investigados, como o próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto.