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As invasões do MST e a ressaca política causada pela eleição de 2022

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Foto: ReproduçãoPor Branca Nunes

Nos anos 1970, eram as japonas à Mao Tsé-tung e as barbas no estilo Fidel Castro. Depois, vieram as camisetas com o rosto de Che Guevara estampado. Agora, para reconhecer um típico militante da esquerda brasileira, basta verificar se, além da máscara de proteção contra uma pandemia que acabou, também completa o uniforme com o boné vermelho com o emblema do MST.

“O ‘MST raiz’, da luta pela reforma agrária, virou uma mistura de assessoria de imprensa decidida a emplacar artigos de ‘intelectuais progressistas’ no consórcio da velha mídia com butique de venda de bonés para jovens frequentadores de bares da Vila Madalena ou do Leblon”, resume a reportagem de capa desta edição, assinada pelos repórteres Artur Piva e Joice Maffezzolli.

O texto detalha o que foi e no que se transformou o movimento que há anos atormenta produtores rurais brasileiros. Dezessete anos depois da destruição do viveiro da Aracruz Celulose — imagens de um bando de mulheres do MST acabando com 15 anos de pesquisas genéticas no campo correram o mundo —, o alvo foi a empresa Suzano, no sul da Bahia. “A explicação é a mesma: a empresa tem causado mal ao meio ambiente”, lembra a reportagem. “Um detalhe, contudo, derruba de cara essa justificativa: a Suzano ganhou prêmios nos últimos anos como referência em gestão ambiental.”

Ex-integrantes acusam a sigla de buscar não a reforma agrária, mas outro palanque para a esquerda. “O MST quer continuar na baderna”, afirma um dos entrevistados. “Se o governo dá o título de propriedade, acaba o movimento.” Em média, Michel Temer concedeu 14 mil títulos definitivos de propriedade por ano. Com Jair Bolsonaro foram 8,5 mil títulos, ante 2,2 mil no governo Lula e 3,5 mil no Brasil de Dilma Rousseff. Previsivelmente, a volta das invasões espetaculosas coincide com o retorno de Lula ao poder.

“No curto período em que todos foram iguais perante a lei neste país, e em que cada um, fosse quem ele fosse, teve de responder por seus atos, um ex-presidente foi para a cadeia, e ficou lá 20 meses”, observa J.R. Guzzo, em seu artigo publicado nesta edição. “Não é exagero dizer que o Brasil se embriagou de liberdade”, completa Roberto Motta, ao lembrar que esse período coincide com o nascimento da direita democrática. “Eis o fato essencial: a partir de 2014, o brasileiro renovou sua crença nas instituições e nas leis, e em sua validade, seriedade e permanência. Os brasileiros voltaram a se interessar por política.

O resultado das eleições de 2022 representou uma decepção paralisante para muita gente, afetada por uma espécie de ressaca cívica. O desânimo levou ao afastamento de tudo o que lembre política. A boa notícia é que, como constata Motta, a ressaca não dura uma vida inteira. E as eleições municipais de 2024 estão aí para apressar a inevitável mudança de ânimo.

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