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A transformação no Cerrado Piauiense

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Foto: reprodução

Por Geraldo Eugênio / Jornal O Sertão*

O estado passou por uma mudança significativa nas últimas duas três décadas. De uma completa dependência à capital, Teresina para uma economia mais diversificada contando com pólos ao norte, como Parnaíba e ao sul, destacando-se Picos, Bom Jesus e Uruçuí . Nesta área, objeto de nossos comentários nesta coluna o que prevalecia era a agricultura de subsistência, uma pecuária simples do ponto de vista tecnológico e, em consequência, uma pobreza endêmica que saltava aos olhos. Nos últimos trinta anos a mudança desencadeada deixa uma marca invejável sob qualquer ponto de vista. A mudança se deu devido à agricultura comercial tendo como principais produtos a soja e o milho, uma pecuária que se intensifica a partir de práticas como a integração lavoura-pecuária do plantio direto.

Esta descrição diz respeito a área de Cerrado à oeste do município de Bom Jesus até a divisa com o estado do Maranhão. Os números são expressivos. Não é à toa que as projeções de cultivo para a safra 2024/2025 contam com um milhão e seiscentos mil hectares cultivados com soja, milho e algodão, no cerrado e quinhentos mil hectares com culturas de verão a partir do milho safrinha, do sorgo, do milheto e da produção de feno. Isto é, entre o Cerrado e a Chapada são dois milhões de hectares cultivados. Entenda-se, oito vezes a área de cana-de-açúcar em Pernambuco.

À leste da Serra das Confusões até o encontro com Pernambuco está a nossa velha e conhecida amiga, a Caatinga, com quem lidamos em setenta por cento da área do semiárido e que tem sido objeto de amplos debates sobre sua preservação, conhecimento, domínio, uso e valor.

Mais uma vez a saga do Catarina, Paranaense e do Gaúcho

Era o início dos anos oitenta quando um grupo de gaúchos do oeste do Rio Grande do Sul, do município de Santa Rosa Chegaram à Uruçuí, trazidos por um empreendedor paulista, o José Eduardo, iniciou o desbravamento do cerrado, o cultivo de grãos e, anos após anos, criando com a participação do governo estadual, federal e dos municípios uma  capacidade mínima de recepção de insumos e escoamento da produção. Sempre, com razão, se há destacado a intrepidez e a coragem de cidadãos e cidadãs dos estados que formam o Sul do país: Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. As marcas de cada um  desses grupos são sentidas ao conhecer os fazendeiros, os comerciantes aqueles que prestam serviços sejam na área técnica, econômica, de conhecimento, de logística. À eles foram se agregando milhares de jovens empreendedores que foram sendo incorporados ao negócio e passaram a fazer parte desta onda de prosperidade que varre a região. O que de certa forma ocorreu antes com os goianos, os mato-grossenses, os maranhenses e simultaneamente os piauienses com os irmãos de Roraima, Rondônia e Acre.

A infraestrutura disponível

Há um fundamento indispensável ao desenvolvimento que é a infraestrutura logística e, no caso do Semiárido e do Cerrado nordestino, as estradas. De Serra Talhada à Bom Jesus, no Piauí, via Petrolina são 953 quilômetros, 390 dos quais em território piauiense. Pasmem. Viajamos por rodovias federais ou estaduais em ótimo estado de conservação. No cerrado foram percorridos ao redor de 800 quilômetros em dois dias, destacando-se o trecho Bom Jesus – Nova Santa Rosa, utilizando-se da PI 392 e PI 395, a Rodovia Transcerrado, em ambos os casos recém pavimentadas com sinalização horizontal e vertical em todo trecho. Neste caso forçando-se a percorrer um arco que quando da conclusão da estrada ligando São Raimundo Nonato à Bom Jesus, economiza 140 quilômetros deste trajeto. Chamando a atenção para o fato de que uma boa parte desta ´corda` encontra-se feita, faltando tão somente sessenta quilômetros, cujas obras estão em andamento.

Os aeroportos regionais, como o de São Raimundo Nonato, começam a ser operados de modo mais frequente, além de dezenas de pistas de pouso nas fazendas localizadas nesta região. E quanto à ferrovia transnordestina, onde entra o Piauí, tal qual Pernambuco foi postergada ao não se sabe quando. Para delírio do empresário do sul do estado, o governador do estado, Rafael Fonteles, anuncia que o que o estado necessita e o que ele irá buscar é a ligação do sul do Piauí ao Porto de Luiz Correia. Não fica difícil se avaliar o impacto que estaria em andamento para a região em se conseguir tal feito uma vez que a área setentrional do Nordeste passaria a contar com três portos funcionais e de escala, Itaqui, Luiz Correia e Pecém.

Novos Investimentos

Os planos públicos por mais arrojados que sejam são diretamente relacionados a personagens. A instalação da Refinaria Abreu e Lima e da Fábrica da Fiat, em Pernambuco não teria sido sequer cogitada sem a participação decisiva do Presidente Lula em seus dois primeiros mandatos e a presença do governador Eduardo Campos, Pecém Jamais teria saído do papel sem Tasso Jereissati e a boa vontade de Fernando Henrique; o polo de Camaçari não se materializaram sem a força demonstrada por Antônio Carlos Magalhães, na Bahia. Hoje o que se vê no Piauí é um jovem gestor, desafiando o que dele se poderia esperar, levando à frente um projeto apoiado pelo governo federal de modo diferenciado desde 2003 até 2024.

A iniciativa privada tem feito sua parte e encontra-se em fase de implantação um grande frigorífico, duas refinarias de etanol, uma beneficiadora de algodão, o que levará o produto do agronegócio piauiense verticalizar as cadeias produtivas e tornar a região ainda mais próxima. O que se espera ocorrer nos próximos quatro anos.

A chapada e a caatinga

Volta-se a chamar a atenção para a força do que representa a educação. Hoje passamos rapidamente pelo campus da UFPI, em Bom Jesus. Tal qual em Serra Talhada, a contribuição da presença da universidade se faz sentir a olhos nus. Este Campus e os demais investimentos em formação da juventude regional serão indispensáveis ao desafio que resta: usar de forma sustentável e são mais dois milhões de hectares no cerrado e uma área equivalente do que se considera chapada e caatinga entre as escarpas do planalto e a Serra das Confusões. Vocês que têm participado desta façanha estão de parabéns. Que não arrefeça e que as forças trabalhem na mesma direção.

*Professor Titular da UFRPE-UAST

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