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A teimosia dos pardais

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Foto: reprodução facebook

Por Adalberto Pereira*

O ser humano, em sua grande maioria, vive de costumes; uns louváveis e dignos de tolerância; outros, ao contrário, vítimas de repugnância. Cada um tem uma justificativa, mesmo injustificável, para defender a sua teimosia.

Eu, como um ser humano normal, também tenho alguns costumes. Como exemplo, cito aquele de, logo ao acordar, tomar meu cafezinho sentado na minha tradicional cadeira de repouso (veja foto), contemplando os cantos dos passarinhos. O mesmo eu faço após o almoço.

Aliás, é nesta cadeira onde eu crio as minhas histórias. Eu até coloquei nela o nome de “cadeira do professor Pardal”. Nela, sento-me e, quando menos espero, lá vem aquela vontade de escrever. Para não perder a vontade e o assunto, corro para o computador e faço o que Deus manda que eu faça.

Eu criei um viveiro natural, onde alimento vários passarinhos. São uns vinte merros, dois casais de canários, alguns beija-flores, várias rolinhas, os pardais são incontáveis e, vez por outra, surgem alguns periquitos e bem-te-vis. Juntos, formam um belo coral, que até me inspiram para novos textos. E foi justamente vendo esses pássaros que me veio a ideia de comparar certas pessoas aos pardais.

É que eles são deselegantes ao se deslocarem de um lugar para outro usando o solo e, por mais que eles se juntem aos canários e às rolinhas, não conseguem a sua elegância do caminhar e a sua beleza no cantar. Os pardais, talvez por serem teimosos demais, não aprendam a ser iguais aos canários e às rolinhas.

Conheço pessoas que, por mais que você mostre o que é certo e o que é errado, elas sempre continuam trilhando pelo caminho errado. Até parece que se sentem bem em assim procederem. Muitos até fazem questão de defenderem quem anda na contramão da verdade.

Lembrei de um amigo meu que, vendo-me entristecido com a mudança de comportamento de um determinado cidadão, assim falou:

– Não se preocupe, amigo, ele está seguindo o caminho que se identifica muito bem com ele. Se você descer até lá, perde a sua integridade e o se caráter. Não sinta vontade de provar do mesmo farelo.

Sabe que eu até cheguei a me convencer de que meu amigo tinha lá suas razões! Mas o problema é que quem aprendeu o caminho da honestidade e da idoneidade moral, não se conforma com os deslizes de quem você tinha tanto orgulho.

E cada vez que me acomodo na “cadeira do professor Pardal” para tomar meu cafezinho da manhã ou para o meu descanso depois do almoço, vejo os mesmos pardais pulando em sua deselegância, enquanto os canários e as rolinhas ao lado deles caminham com elegância e beleza.

Eu até chego a rir em silêncio, lembrando das pessoas de quem eu tentei remover ideias absurdas, mas que não obtive êxito. Nascem aí as mais diversas interrogações em busca de uma resposta óbvia. O que essas pessoas metidas a intelectuais encontram de positivo ao escolherem o pior caminho?

Então eu penso na possibilidade de um milagre: Já pensou que de repente esses pardais começassem a andar como os canários e as rolinhas? É aí que eu dou um leve toque na cabeça e murmuro: ACORDA, ADALBERTO!

É o mesmo que esperar um canguru acompanhar a elegância do caminhar de uma onça ou de um leão. Levando para um caso mais comum: é o mesmo que esperar um político corrupto devolver os valores usurpados dos cofres públicos.

Ihhhh! Já não está mais aqui quem pensou e escreveu. Melhor se conformar com a teimosia dos pardais.

*Adalberto Pereira foi um dos primeiros comunicadores do Sertão do Araripe e ocupou o cargo de gerente geral da antiga Rádio Grande Serra AM 660

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