Por Geraldo Eugênio / Jornal do Sertão
Do ponto de vista paisagístico quanto mais alta, com uma copa bem definida, capaz de prover uma grande área coberta e, durante o período seco florescer, se possível de modo uniforme dando a impressão de que há uma floresta com flores brancas, logo depois surgem as flores azuis, seguindo-se das flores amarelas e vistosas. O interessante é que, o que é recomendável, do ponto de vista de paisagem não conta com os mesmos critérios da evolução em áreas secas. Nos locais mais áridos em que aparentemente as espécies são de pouca utilidade mas é onde resta o futuro da humanidade e as informações genéticas que permitirão o desenvolvimento de uma agricultura adaptável às mudanças climáticas em curso, conforme se comenta com frequência nesta coluna.
Como escolher bem as espécies para arborização
Antes de se chegar à seleção do que plantar, o município deve decidir se pretende ter uma cidade verde e colorida durante a floração ou com plantas em que as folhas caem , podendo ser tão perturbadoras que, em alguns casos, as pessoas procuram uma forma de se livrar da árvore que se encontra em sua calçada. As desculpas são muitas: junta insetos, pássaros, pessoas desocupadas, animais de rua, sombreia a casa, racha as calçadas, entope o esgoto, atrai os meninos em busca dos frutos. Uma ladainha interminável. Nem sempre lembram do que representa uma sombra que além de reduzir a temperatura do local em alguns graus centígrados, torna a calçada ainda mais confortável para a boa conversa da tarde.
Quase sempre, a arborização de uma cidade não se dá por critérios técnicos. Normalmente as árvores plantadas são aquelas disponíveis nos viveiros das empresas responsáveis pela instalação das plantas. Os riscos de escolhas impróprias não são pequenos e temos exemplos extremos de falsa percepção como é o caso do Ficus, árvore que durante muito tempo foi usada intensamente no paisagismo urbano e, os fantasmas fictícios como é o caso do Nim, que em alguns círculos é divulgada como uma espécie nociva, contaminante e poluente, sendo importante lembrar que, de onde vem esta planta, a Índia, ela é uma árvore considerada sagrada.
Há como se instalar jardins e alamedas com espécies nativas e exóticas, realçando o conforto, a beleza e a utilidade.
A craibeira, a catingueira e o angico
Durante o último final de semana, deslocando-se de Serra Talhada à Arapiraca, via Floresta, Jatobá e adentrando-se no Sertão alagoano, nos deparamos com um quadro que a natureza nos traz a cada ano, mas que nem sempre paramos para observar um pouco. Entre Floresta em Pernambuco e Arapiraca alguém se surpreende pela beleza de uma árvore coberta de flores amarelas principalmente nos baixios mas destacando-se em uma região em pleno período seco. No estado de Alagoas há uma cidade chamada Craíbas. Fiquei surpreso ao saber que a craibeira é uma das principais árvores usadas em sua arborização nos últimos anos. Um indicativo de bom gosto e a certeza de que, logo a cidade estará ainda mais agradável e bonita. Ao retornar à Serra Talhada notei pela primeira vez que na Cidade de Delmiro Gouveia, as craibeiras estão em todos os lugares e de todas as idades. A situação é tão interessante que comentei que caso Alagoas algum dia pretendesse mudar de nome, minha aposta seria Craíbas ou Craibeira. A primeira em homenagem às tribos que habitavam o Agreste e o Sertão.
E a segunda em deferência a uma árvore de valor decorativo tão especial.A segunda espécie a que me refiro é o angico. Interessante que logo após as primeiras chuvas ao sopé das serras aparece um manto branco de flores desta árvore. O angico é tão alto quanto a craibeira mas, com a delicadeza e a beleza que o candidata como uma planta a ser mais bem aproveitada. Ainda não vi nenhuma cidade tendo o angico como prioritário. Talvez, em algum momento surjam prefeitos e gestores que a trate com o merecido reconhecimento.
Seguindo-se, temos a catingueira, cujo nome não esconde sua origem. Não tem o porte da catingueira nem sua copa fica completamente tomada de amarelo ao cair suas folhas mas, é igualmente bonito e podendo ser base de programas de arborização
Apenas três árvores em um universo extenso mas que desde as escolas às associações de bairros poderiam incentivar a produção de mudas que fossem usadas prioritariamente no embelezamento das rodovias, alamedas, ruas, praças, pátios e calçadas.
Sombra para todos
Por falar em calçada, Serra Talhada e quase todos os municípios do sertão de Pernambuco ainda conserva uma prática invejável e impossível na grande cidade, a conversa da tarde e da noite nas calçadas. Em todas as ruas, sem exceção, são famílias que se reúnem, grupos de amigos, observadoras solitárias ao que ocorre ao redor, alguns com olhares fixos em um horizonte imaginário. Durante os meses mais quentes, as calçadas também são um refúgio em contraposição ao calor dentro das casas nem sempre altas e coladas umas às outras. Imaginemos essas pessoas que sistemáticas do descanso na calçada contassem com sombras que permitissem um melhor conforto térmico, a beleza das folhas, a cor das flores e o sabor dos frutos. Vale a pena chamar a atenção, a opção é clara, uma cidade estéril, quente e desagradável ou uma que presenteia aos seus moradores com conforto e beleza. *Professor Titular da UFRPE-UAST