Por Jorge Serrão*
É precipitado, até leviano, especular tão cedo sobre a sucessão presidencial de 2022. O problema é que tal processo já foi deflagrado, prematuramente, desde quando Jair Messias Bolsonaro e Antônio Hamilton Mourão venceram, de forma surpreendente, a eleição de 2018. O sentimento anti-petralha e a facada de 6 de setembro (que desarvorou os adversários e impediu que a vítima quase fatal participasse dos debates em que poderia sofrer desgastes de imagem) foram decisivos para a vitória, junto com a promessa de um governo de transição, que faria reformas estruturais importantes e imprescindíveis. A recente decisão do Poder Supremo, que reabilitou Luiz Inácio Lula da Silva para retornar ao xadrez (eleitoral), apenas acelerou o processo da prematura sucessão. Lula Livre já saiu comemorando e se credenciando como candidatíssimo a retornar ao Palácio do Planalto. Como esperado no roteiro do faroeste tupiniquim, já saiu mandando bala em Bolsonaro. Proclamou que toparia colocar seu santo nome à disposição para competir contra quem ele e a propaganda esquerdopática definem como “fascista”, “genocida” e “maior responsável pelas mortes por Covid 19”. A Petralhândia só pensa naquilo: o vírus “Bozo 2022”…
A polarização Lula x Bolsonaro (ou vice-versa) só tem um pedregulho no meio do caminho: a vontade do establishment. Aparentemente, o sistema oligárquico que comanda o Brasil não deseja nem um nem outro na presidência a partir de 2022. O Estamento Burocrático não deseja que Bolsonaro sofra impeachment, mas também não quer que ele se reeleja. O Mecanismo fará de tudo para que Bolsonaro sofra desgastes, constantes e crescentes, até o fim deste mandato. Da mesma forma, não interessa ao sistema de poder um retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Agora, o desgastado condenado é usado apenas como um fantoche para acirrar a polarização política com Bolsonaro, para desgastar ainda mais a imagem dele.
Enquanto a guerra se polariza entre a petralhândia e o bolsonarismo, a oligarquia tupiniquim tenta construir e viabilizar um personagem de centro (esquerda) para disputar e vencer a eleição de 2022. Até agora, a figura é um sujeito oculto. Mas o personagem será construído, financiado e viabilizado até a hora da decisão final de uma eleição que deverá contar com três concorrentes em condições de receber a maioria dos votos de um eleitorado altamente polarizado, insatisfeito e repleto de dúvidas sobre o futuro imediato. O resultado eleitoral de 2022 vai depender, muito, do ambiente econômico. Por enquanto, desfavorável (sobretudo a Bolsonaro). Só que tudo pode mudar. Se a economia e a percepção social for de melhora do emprego e da geração de renda, Bolsonaro figura como favorito. Do contrário, o flanco fica aberto para Lula e, principalmente, para um nome de “terceira via” (centro-direita ou centro-esquerda) ainda indefinido.
Além da economia e do establishment que não deseja Lula nem Bolsonaro, vem aí o maior embate político do bolsonarismo contra o Poder Supremo: a impressão de voto nas urnas eletrônicas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que será presidido por Alexandre de Moraes, não quer essa “inovação”. O Supremo Tribunal Federal (STF) tende a sabotar a conferência física do voto que o Congresso pode aprovar na base da pressão popular. Bolsonaro, seus filhos políticos e a deputada Bia Kicis (presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal) lideram uma campanha nas redes sociais a favor do voto impresso. O STF rejeita a mudança, que pode ser imposta legalmente, mas terminar considerada “inconstitucional” por ampla maioria dos 11 integrantes da Corte. Uma grande batalha suprema se avizinha.
Depois que o pau comer, vai se acelerar o complexo processo para “invenção” do personagem que representará a eventual “terceira opção”. Se Bolsonaro perder a batalha pela conferência do voto, sua situação eleitoral tende a se complicar. A petralhândia está fechadinha com o STF para barrar a possibilidade do voto impresso pela urna eletrônica. Por enquanto, ainda é muito baixa a pressão popular a favor da mudança imprescindível para a transparência e plena segurança do voto no Brasil. Apuração de voto sem recontagem, com resultado dogmático e sem questionamento, é antidemocrática. O processo não pode ser atrapalhado pelo Sistema de Tutela Federal e seu Trâmite Sigiloso Eleitoral.
*Comentarista politico da Rádio Jovem Pan